10.6.11

Macunabéa

      Nada mais contagioso que o movimento do remador. Perdido na imensidão aguda das águas, ele, inimigo do silêncio e peregrino da saudade, resiste ao oco do tempo.
     Rema, o remador, levando consigo toda rima da dor.
     Permanece esquecido da prisão aquática quase opaca, quase olfativa. Uma gaiola invisível e flutuante.
    Seu batelão choca-se com um banco de areia. Interrompe, assim, a filosofia constante do seu navegar.
     - Por que diabos!  Devia seu fiel escudeiro da travessia se irritar?
    O coito interrompido dos pensamentos o fez levar para o ócio.
    Amarrara a corda cheia de farpas num galho ao lado e na ponta do barco fez-se a descansar.
     Acima dele um apocalipse motorizado. As ligas de ferro da ponte mal agüentavam tanto egoísmo e ódio. Tanto medo e angústia. Mal estar na civilização de aço? Os grandes blocos de concreto sólido mal sustentavam o que havia se tornado a condição humana. Uma água.
    Lodosa astúcia dobrava o manto de idéias que pairavam no narcótico do existir. Prédios discretos, humanos em aberto. Imutáveis eram as margens do velho rio, já que as águas passavam rindo do não-ser que perdera sua castidade.
    O mundo caía sobre o pequeno remador que, na ponta da canoa com uma vara metafísica, pescava sonhos. No perto, na janela do ser, vinha dos vales oníricos a voz. As palavras se subjetivavam nas copas das árvores resistentes.
   Restava sem rosto, sentada de branco, a alegria intransitiva. Com seus longos prolengômeros para o vício, o remador martirizava sua existência enquanto nada. Uma suja inflação da consciência à intempestiva cidade.

Primeira respiração: Libido (Allegro com pitadas de baião)
     No acima, depois da sombra, no mesmo milésimo do segundo cuspido, vinte e dois casais e sete solitários haviam arduamente batalhado e por fim conquistado, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, o orgasmo.
      Um sentimento de nobreza penetrava as têmporas do casal mais pobre (materialmente); um momento de pureza ao casal mais afortunado (esdruxulamente).
     Todos leves. Súbitos. Divinamente ateus.
     A liberdade beijara a genitália de todos naquele breve instante. E a elevação do prazer fluiu pelos ares. Como consolo uivava pingos de Don quijote desonrado. Mefistófeles em gotas de chocolate. Fronhas mordidas por satãs. Metades de todos pecados.  Luxúrias de metades do todo. 
     Deus fora bondoso, concedera paz em alguns segundos para os mortais. Por ser muito ocupado, liberou a brevidade para justificar. Assim, pueril e devasso.
     Nos momentos restantes, nos cotidianos buarqueanos (intersubjetividades do mundo burguês) quem se encarrega da incumbência de nos tratar é o diabo. Belzebu, que, muito gentil, se repartiu em bilhões e, morando em nossos límpidos ombros, nos auxilia no dia-a-dia.
     Vergonha. É o que se sucede na explosão hormonal do coito.
     Agora no pós-tudo nada presta. Nada funciona. Nada se harmoniza. A sensibilidade do nosso terceiro olho nos deixava suscetíveis ao tudo e ao nada, ao vazio cheio de intensidades fúteis.
     Nada justificava o fetichismo do remador de desossar vinte e nove fênix sensuais. O rio causava aos filósofos fugidios uma inflação da consciência. Zoé, Bios. Nada entendia. - É crua a vida concluía o remador. E neste instante, nesses dois passos de formiga, o remador, enfim respirava o libido do além das sombras.

Segunda respiração: Fatalidade  (Adágio sostenuto na sanfona andante)
    Mais dois passos de formigas. Mais mil fatalidades cuspidas ao vento. Há somente dor: graduais  barcaças do tempo, miscelâneas tulipas de desejo.
    As separações fatais vêm em mil graus.
    Depois dos blocos de concreto sólido a morte é apenas o início.
    Vidas são promiscuamente riscadas como palavras num quadro negro. ( há porém, os ultra-românticos da Península Ibérica marciana que voluptivamente profanavam tanto a morte e o fim de relacionamentos na mesma caixa de pandora).
    Maria das Florências escorrega num chiclete rosado com mancha do asfalto, sendo atropelada em seguida por José, o mesmo que exatamente há um mês três dias e duas horas, o cuspiu ao se engasgar.
     Coincidência é a última quimera do destino, e destino, o princípio da fatalidade.
     E agora, Maria? E agora, José?
    Na curva da respiração do remador, mais de cento e vinte cadáveres quentes como a ilusão, dão entradas a necrotérios mortos, todos em dia com o passaporte de Hades e atrasados da benção de Dionísio.
     Sacudidos com o sossego do nada, mais acidentes de trânsito, mais aviões a despencar do galho do céu, mais assassinos menos criativos – O noir comedido do mistério dá lugar à banalidade do colorido. A explosão crepuscular de fatalidades do globo é inevitável, radiante e muda.
    Debaixo dos pensamentos medievais da cidade em ardência inconstante, o remador encena um tango argentino com o enjôo renunciado das ondas.
    Sob as têmporas grisalhas, rema o remador, e dá, enfim a segunda respiração com sabor de fatalidade.
    
Terceira respiração: espiritual  (minueto rondó na batucada de uma caixinha de fósforo)
     No conto, o remador saciava a aporia das águas. Desmascarava com golpes invisíveis os vendilhões do desconhecido, templários do dinheiro e da ganância gasosa.
     O espírito se farta do ritual carnavalesco da rotina cotidiana. Não há hora na estrela, no orvalho nem na dor. O tempo é mutável para as cores, e a alma é o espelho para a imensidão prosaica das crendices.
     O remador, que rema, metafisicamente não rema. Se deixa levar pelo sabiá, o qual lhe confessa pecados de ribanceira.
     Alerta geral no além das sombras. As caixas de concreto que falam - denunciam novos becos religiosos onde a saída nos extradita da verdade. Seria a existência uma doença ?
    Muito difícil discorrer sobre o passado no remador que rema, já que o presente futuro se torna herança do passado que virá. Mas uma coisa se acende escura, os únicos consolos que possui é sua canoa ( barco de três triângulos do sertão, feita com tronco de jacarandá) um chapéu de palha, presente de um parente distante que o pariu, e, de saída, a verdade, companheira infiel de sua travessia.
     Mas agora, ancorado no meio do matagal das águas, permanece cheio de nadar e debaixo de gritos proféticos.
     (O profeta é um poeta enrustido que trabalha em função da mentira própria; a preguiça o priva de mentiras próprias. Incapaz, pobre incapaz!)
     Maria das Florências agora assume o completo, o frio culmina na consciência de João, a culpa!
     A despedida de Maria das Florências do além sombra é festejada em tristezas fugidias, palavras ao fogo em nome do vazio espiritual.
     E agora, Maria? Estais em paz com a guerra? E agora, José, condenado ao remorso sanitário, por causa de uma goma de mascar?
     Perante a tamanha profundeza espiritual, o remador que rema, ou melhor, remava, já que está sujeito à sonoridade do imóvel, respira o vazio espiritual de uma multidão de almas veraneias.


      Última respiração: Espanto ( sinfonia infernal de um bandolim, suicídio do maestro)
    Na margem do meio do caminho do rio, o remador que rema é coberto pelo sotaque das águas. Perdido na ebulição do destino, a ansiedade do remador falava pela boca:
- Vivo pra outros de mim mesmo por isso devo retroceder nesse estupor da tarde, antes que o alarde das moitas do rio se acabe - completava o remador idolatrando a duvida – carrego o Amanhã no peito.
    Sente profunda vontade de vomitar sons eufóricos, mas a Verdade, guardada numa bolsa de couro do cabrito, no canto oposto da canoa, o impede.
    Sua passagem fora sofrida, as respirações até aqui eram carregados de hipocrisia, semiventos e melodia.
    O além das sombras era desinteressante em demasia, porém, ele precisava remar. Era um anônimo com um orgulho revoluto cheio de águas. Transmudando qualquer obstáculo e reprimindo seu feixe de eus.
Embriagado de Faustos repetia que duas almas são muito para um só peito que se arrebenta ao escutar os bombardeios das águas. E lamentava sua condição:
  – Sou contaminado pelas coisas da natureza.
    O frívolo aspecto do remador surpreendia tudo e todos ao seu redor, a correnteza trazia peixes mortos mas ele insistia no desejo da volúpia metafísica. Por fim, como alguém que devora sua carne ao ver um coração de ouro, dispara aos ventos:
    - Não sou Macunaíma, nem Macabéa. Eles são protagonistas da engrenagem maquinaria do pau-brasil, à procura da sorte. Esperança do tolo. Eu não, eu tenho a verdade numa bolsa e uma missão a seguir – completa com alegria – remar.
     E uma onda o engole, e sua última respiração se materializa num espanto, e depois, afasia.

                                                                                                                      Thor Veras       

29.1.11

Cap.04 - Iran

Foi algo realmente inesperado e um pedido um tanto estranho. Apesar que o olhar de Ipu faria como fosse impossivel dizer não a ele, estava fora de questão matar alguém naquele momento, se é que aquilo fosse ajudar em algo, pelo contrário, iria causar a ira de toda aquela tribo daquele jovem que ali se encontrava, apreensivo diante dela. Tentando organizar um pouco as ideias e analisando um pouco o estranho pedido, Taní fez a ultima coisa que Ipu acharia que fizesse, deixando-o um pouco espantado: Riu descontrolavelmente. (\o/)
- Eu disse algo engraçado?- perguntou ele um pouco confuso
- Pra dizer a verdade, sim!- disse Taní em tom forte - é óbvio que eu jamais faria algo parecido. Você nunca acreditou mesmo que eu fosse um astral maligno, ainda assim fez esse pedido. Por acaso a árvore te falou para me testar? -Disse Taní em tom bem ameaçador.
- Não, não...er...eu... - Ipu estava desconcertado o suficiente para não achar palavras coerentes.
Antes que conseguisse dizer algo significativo, Taní com um mão segurou o rosto de Ipu e lhe disse com toda confiança do mundo:
- Tudo vai acabar bem. - e sorriu gentilmente - Pode parecer meio confuso agora, mas eu acredito que o deus Sol nos reservou algo maravilhoso para o futuro.- aquilo soou estranho aos ouvidos de Taní. De onde saiu aquelas palavras? de onde saiu tanta confiança? De longe parecia aquela confusa menina que despetara naquele mundo desconhecido.
- Taní... Só poderia ser você mesma para dizer isso.- E Ipu deu um forte abraço. Não queria deixar nem aquele momento, nem Taní escapar. E assim permaneceram por um longo tempo. Havia algo diferente no olhar de Taní. Ipu estava muito feliz para notá-lo.
*barulho de tronco quebrando*
-AAAAAAAAAAAHHHHHHHH!!!
O barulho assustou os dois que logo se manteram em alerta. havia muito movimento pelo arbusto na qual o galho caiu.
- Maldito galho, estragou todo meu plano! ai...- reclamou a voz visivelmente dolorido pela queda.
- Quem está ai? - Gritou Ipu. Logo a barulheira do arbusto acabou rapidamente.
- Não ouço mais nada. - disse Taní baixinho.
- Shhh! - Ipu fez sinal de silêncio.
- Taní, fique aqui. - disse em mesmo tom Ipu segurando uma pequena adaga de osso no punho - qualquer sinal de perigo, fique perto da árvore.
Ipu se aproximou pé ante pé do arbusto inquiento com o coração a ponto de fugir pela boca (\o/)². uma gota de suor escorreu pelo seu rosto enquanto se preparava para um possivel ataque.
- POR FAVOR, NÃO ME MATE!!!!!!!!- gritou apavorado um jovem encolhido de medo.
- IRAN!!!! - Ipu pegou este pelo braço e puxou para fora do arbusto com tanta força que podia arrancá-lo - No que estava pensando??? Queria me matar de susto??? -Ipu se apoiou nos joelhos, ofegante.
- Eu sinto muito mesmo, eu não queria te atrapalhar. Eu só estava no lugar errado e no momento errado. - Disse Iran massageando o braço puxado. - Você é ralmente forte quando está com medo - disse soltando uma dolorida risada.
- Cala a boca! Nunca mais faça isso! Por que diabos você está aqui?
- Eu queria ver se era verdade o que todos estavam dizendo. Sabia que você estaria aqui, mas quando eu cheguei, vocês estavam tão juntinhos...ah~ eu não queria atrapalhar- Iran fez uma cara tão engraçada, que seria impossivel descrevê-la aqui. Ipu ficou tão corado quando uma pimenta ou um camarão assado.
- Vo-Você...é um intrometido!!!
- Ora, Ora...- Iran soltou alegre risada. - Bem, eu queria vê-la, onde ela está?
- Oh, ela estava perto da árvore. Taní, pode sair, é apenas o intrometido do Iran -
Gritou Ipu.
Ao longe, Taní saiu da sombra da árvore e se aproximou dos dois.
- Incrível, realmente é possivel trazer um astral de volta ao seu corpo!!! - exclamou Iran espantado e começou a cutucá-la na bochecha para verificar a veracidade dos fatos.
- Para com isso, ela ainda está confusa, mas eu já confirmei que ela não é um astral maligno - E ambos reeniciaram a briga.
Entretanto, Taní estava silênciosa, de cabeça baixa, perdida em pensamentos...
- Taní, algo de errado? - Ipu perguntou preocupado.
- hein?...er...ah!não foi nada, eu estava recordando algumas coisas.- Taní sorriu meio sem jeito. - Ipu notou pela primeira vez algo diferente.
- Desculpa interromper - Disse Iran já interrompendo - mas a reunião sobre a ataque a feiticeira vai começar daqui a pouco. É uma ótima oportunidade para recuperar as lembranças da Taní, não acham?.
- É verdade. - respondeu Ipu
- Eu sei o quanto ela gostava desse dia. Vocês vem ou não?
- Eu não sei, o que você acha Taní? eu não me importo de não participar dessa vez. Se você quiser um tempo, eu...
- Não, Não!- Interrompeu Taní - Como o Iran mesmo disse, é uma boa oportunidade. Vamos indo.
E os três se retiraram do local. Taní olhou para trás e sorriu ao olhar para a árvore misteriosa. Todos retornaram para a aldeia.

---------Fim do Cap. 04----------------------------------

Desculpa a demora gente, mas o meu inimigo mortal, o vestibular, me deu trabalho durante todo o ano passado, mas agora que ele morto e enterrado, espero logo terminar de escrever antes de esquecer o resto da história =D. até +

9.1.11

Carta aos Sobreviventes

A manha nasceu assim, em tom cinzento, e parece que não vai mudar nada durante os próximos dias, afinal de contas, estamos no inverno, há neve e corpos para todo lado, e não se arrisca sair de casa devido ao frio e a ameaça iminente, apenas em condições extremas, entretanto, todos tem o suficiente para sobreviver alguns poucos dias. Os caminhantes do sul trazem más notícias, desde que o confronto começou, tivemos muitas perdas, embora não acredite com todo o meu pouco conhecimento que nosso governo tenha tomado a decisão correta, ninguém poderia imaginar que teríamos uma resposta tão rápida do primeiro ataque.
O secretário de defesa nos assegurou que não éramos um alvo fácil, e que estaríamos invulneráveis devido à força de ataque comandada por nossa nação. Bem, aqui estamos, obtivemos resposta, e tal resposta não foi com bombas nucleares, nem mesmo ataques biológicos, nossos inimigos possuíam uma tecnologia até então conhecida, a nanotecnologia, mas, não poderíamos imaginar, que sua resposta fosse tão eficaz contra nossas armas de destruição de massa. Eles construíram máquinas destrutivas, robôs com inteligência artificial, e os colocaram aos serviços da população nos últimos cinco anos.
Fontes de segurança pública afirmam que parte de algumas das localizações geográficas de usinas, indústrias petrolíferas, e multinacionais, foram roubadas no mesmo ano em que as máquinas foram construídas. Até então, os fatos não tinham nenhuma ligação, ate descobrirem mais tarde que as máquinas foram construídas graças ao faturamento da venda de tais artigos, ou com o aproveitamento de determinados materiais ou elementos.
A imprensa não foi informada de tais acontecimentos, pelo menos não tão cedo. Mas no momento em que um homem foi encontrado morto em uma cidade do oriente, e identificado como antigo funcionário desta multinacional ao qual comprava tais mercadorias e riquezas naturais, descobriu-se o seguinte fato: só conseguiram identificar seu primeiro nome, porque o quiseram que descobrisse, pois não tinha nenhuma prova de origem do homem, apenas Thomas, os dentes foram arrancados, ate mesmo um dos olhos, apenas Thomas, o resto de sua identidade estava destruída pelo fogo. Um norte americano o encontrou, e ligou para a embaixada no local, eles disseram para ele tirar fotos do local e do corpo, anotar tudo o que visse, rostos, placas de veículos entre outros, pois, ele não estava em sua jurisdição como agente, então, o corpo poderia ser levado para lugares desconhecidos e o mistério não seria solucionado, e também não haveria uma investigação posterior para descobrir a relação do corpo com o caso dos robôs, e das armas nucleares, dos quais os norte americanos já desconfiavam.
Não houve tempo, era apenas isso que eles poderiam conseguir, logo após fazer o que lhe foi requerido, o agente até então desconhecido, desapareceu, como fumaça, não obtiveram mais contatos, não conseguiram sua localização, a ultima vez que foi visto, foi no deserto, próximo ao Egito, morto. Entretanto, os norte-americanos ficaram pouco tempo ansiosos, o ataque se iniciou dez dias depois da ultima vez que soube notícias do agente. A primeira cidade atingida foi Nova Jersey. Não precisou mais de nenhum ataque, o mal se infiltrou e pouco a pouco foram dizimadas cidades, populações, vilas, natureza, e o pior de tudo, ainda não acabou.
Há alguns dias que estou preso na fronteira da Venezuela com a Colômbia, esta frio, o ataque nuclear parece ter ocorrido em toda a Europa, na Ásia, África, e agora ouve-se notícias de que já chegaram na Austrália. Enfim, este é um relato de um sobrevivente aos ataque no Novo México, se estiverem a ler esta carta, quer dizer que encontraram tal ave, no qual precisei de suas patas para carregarem a mensagem.
Não sei quanto tempo ficarei vivo, os recursos estão escassos, pretendo chegar ao Brasil, mas, é difícil, é como andar em um nevoeiro, o planeta esta perdendo seu aquecimento, a guerra esta consumindo tudo, e as armas que consegui, muitas ainda não tenho o domínio necessário. Preciso de ajuda, se alguém puder, siga a ave de volta, ela sempre volta para o local de origem, ela é treinada, e já ia me esquecendo, se for andar com ela nos braços, coloque uma proteção, o animal é dócil, pelo menos se tornou assim, mas suas garras rasgam a pele humano com facilidade.
Meu nome é Sebastian, existem cópias em inglês e espanhol, junto a esta carta, caso tenham dificuldade em intrerpetá-la. Por favor, se apressem, se puderem, acredito que com os equipamentos que ando encontrando, poderemos encontrar uma saída.


Aos sobreviventes.








Por Ykaro Venâncio

5.8.10

Cap.03 - Silêncio

Correr. Correr para onde? Taní não tinha ideia do que se passava na cabeça de Ipu, mas acima de tudo, não tinha ideia de onde estavam indo. A floresta verde- esmeralda, aos poucos, foi se ofuscando até céu e floresta se confundirem com o negro. Enquanto corria, ela tentava reaver memórias ou qualquer coisa que explicasse sua atual situação. "Taní... Isso não é real. Não posso ser essa tal pessoa. como eu cheguei aqui??". Sua linha de pensamento logo foi interrompida por Ipu e logo se deparou com uma grande árvore. Ipu soltou a sua mão e foi ao encontro da árvore. Se aproximou, fechou os olhos e encostou a cabeça no tronco e assim permaneceu por algum tempo. Taní o observava. Parecia estar rezando, falando consigo mesmo. Taní se espantou ao observar que as folhas da árvore começaram a reluzir, mostrando sua verdadeira cor: Vermelha. As luzes das folhas seguiam em um fluxo continuo até a cabeça de Ipu, que parecia absorver aquelas luzes. Ipu levantou a cabeça da árvore e disse baixinho:"Obrigado".
Uma pequena luz se soltou da árvore e tocou a fronte de Taní e seus pensamentos começaram a se abrir, como um raio tentando escapar de uma caixa fechada. Taní soutou um pequeno gemido de dor, Ipu se aproximou, tentando acudi-la.
- Taní, você está sentido alguma coisa? Está ferida?
- Não, eu estou bem, assentiu com a cabeça.
Ipu não percebeu, mas aquela pessoa deixou ainda mais de ser Taní , entretanto, tomou mais consciência da situação em que estava.
"Se eu seguir como o dito. eu posso voltar! Tudo voltará ao normal!" Pensou Taní, entusiasmada. "Mas...eu não sei como termina..." Um ar de desapontamento tomou o lugar do sorriso.
- Taní, me desculpe por te trazer aqui - disse Ipu cabisbaixo, quebrando novamente a linha de pensamento de Taní - Mas eu precisava consultar o Silêncio. Ele sempre me diz o que fazer...
- Silêncio? - Interrompeu Taní
- Sim, a árvore Silêncio sempre nos diz o que fazer quando estamos com o coração e a mente cheios de dúvidas. É um lugar proibido para mulheres, mas eu tinha pressa em consultar ele. - Ipu, antes terno, agora, parecia sério, com o olhar decisivo. - E ele me deu uma resposta.
Meio receosa, Taní perguntou:
- Então... o que ele te respondeu??
- Pediu para eu seguir os instintos do meu coração. E é por isso que eu digo: Se você é um Astral maligno, mate-me. Não brinque comigo. Acabe com o sofrimento desde ser que não aguenta ser enganado por seres como você. Faça a grande árvore silêncio, meu túmulo. Nada me faria mais feliz.
Taní ficou sem reação...

--FIm do cap. 03--

4.8.10

A Volta ao Mundo em Atlas, parte 04

Henry pensava no balão gigante todos os dias. Quando o vira pela primeira vez, aquilo logo lhe chamou a atenção. Será que tinha o mesmo gosto que seu avô?

Alguns dias se passaram, e a vida na propriedade de Ludovico era calma para o velho, e chata para os seus netos. Apenas Sophia conseguia se distrair, lendo alguns livros que trouxera de casa. Henry e Liliana tentavam brincar, mas seu avô não permitia que corressem pela casa ou fizessem bagunças.

- Sabe o que devíamos fazer? – perguntou Henry. – Devíamos viajar a bordo desse balão. Conhecer o mundo todo. O que me diz?
- Não acho uma boa idéia, Henry. Não quero zangar o vovô. – respondeu Liliana.
- Não vamos zangar ninguém. Venha, vamos encontrar o tal livro de balonismo dele.

Henry e Liliana vasculharam a biblioteca de seu avô. Nela havia livros dos mais diferentes lugares, diferentes línguas e gêneros. Sophia, que estava em seu quarto, ouvira o barulho e foi até o cômodo checar o que estava acontecendo.

- O que vocês dois estão fazendo na biblioteca? Não é o melhor lugar para brincadeiras… – disse a irmã mais velha.
- Não estamos brincando. Quero achar o livro de balonismo do vovô.
- Mas por que? Não vá me dizer que pretendes viajar naquele balão?
- Claro que sim! É a única coisa boa que tem para se fazer aqui, Sophia.
- Mas Henry, o vovô pediu para ficar-mos longe daquele balão…
- Vocês vem comigo ou vão me deixar ir sozinho? Olha que mesmo tendo apenas treze anos, eu vou!
- Ai, vamos encontrar logo esse livro para ver se você esquece um pouco…

Os três irmãos se puseram a procurar o tal livro de balonismo. Sophia se encantou com o acervo que seu avô tinha e ela nem conhecia. Havia clássicos da literatura internacional, de grandes romances a emocionantes aventuras e jornadas heróicas.

Liliana também se empolgou. Apesar de serem livros antigos, o que lhe chamava a atenção era a arte, as ilustrações e as belas capas de cada publicação. Dentre outros livros, numa prateleira, um deles gritava aos seus olhos. Era um livro de capa dourada, toda trabalhada, que mesmo na sombria biblioteca, brilhava divinamente.

- Henry, será que é aquele livro? – perguntou a caçula.
- Veja se é ele, oras… – disse Henry.

Liliana foi até o livro, mas a medida que se aproximava dele, sentia um aperto em seu coração, uma sensação esquisita, como se algo dissesse para não chegar perto.

Mas a menina tinha uma força de vontade tão grande quanto a de seu irmão, e foi se aproximando do livro. Ao tocar nele, quase sentiu uma tontura. O livro era pesado e aparentemente, muito nobre. Liliana passou trabalho para segurar o livro, que tinha muitas páginas e uma capa grossa.

A menina levou o livro até a mesa mais próxima e examinou sua capa. Nela, havia apenas escrita a palavra “Atlas”, em letras trabalhadas e aparentemente manuscritas.

- Henry, o que é “Atlas”?
- Atlas é um livro de mapas, de vários lugares do mundo. – respondeu Sophia.
- Olhem esse aqui! É muito bonito! – disse a caçula.
- Isso é bom! Guarde esse livro por que, se vamos dar uma volta ao mundo, precisamos de um atlas. – disse Henry. – agora continuem a procurar o livro de balonismo.

Sophie deixou o livro sobre a mesa e voltou às prateleiras. Porém, agora, o livro parecia chama-la. Toda vez que olhava para ele, sentia vontade de toca-lo, viajar por suas páginas. Mas tinha que encontrar o livro para seu irmão. Isso era o mais importante naquela hora.

- Achei! – gritou Sophia. – É esse livro?
- É esse sim! – disse Henry, logo indo pegar o livro que trazia a imagem de um balão semelhante ao de seu avô na capa. – Agora vou ler tudo para poder viajar! Vai ser uma grande aventura! preparem-se, minhas companheiras!

Henry logo saiu da biblioteca e foi correndo para seu quarto, levando o livro consigo. Sophia também escolhera um romance que lhe interessou, disse umas duas palavras à Liliana e também foi ao seu quarto para ler.

Apenas a caçula ficara na biblioteca, e mesmo que houvessem dezenas, talvez centenas de livros ali, parecia haver apenas um, o tal “Atlas”.

O livro dourado e imponente atraia seus olhos. Liliana quis aproximar-se dele novamente. Quando estava prestes a toca-lo…

Continua…

24.7.10

Entre a Cruz e a Estrela

Me encontro onde os mortos repousam, onde vejo pessoas sofridas molharem as lápides com as lágrimas de suas saudades. Frias, imponentes e gélidas, as lápides estão fincadas no terreno, surgindo da terra como galhos secos sinalizando que sua vida terrena se esvaiu.
Foi quando uma criança, segurando uma rosa amarela resém arrancada, senta e olha para lápide de sua mãe como quem olha para um passado infinito.
Eu observava de longe, lembrando da foto fixada na lápide, de uma mulher maltratada, velha e cansada da vida. Vejo a mesma mulher jovem, feliz, uma mulher que encontrou no espelho da morte seu rosto perdido em vida.
Choro. Em seguida enxugo as lágrimas rapidamente, tempo suficiente para que mãe e filha desapareçam. Só a lápide estava lá, como um Guarda Roupa Alemão me chamando, parecendo guardar um segredo. Quando fico cara a cara com a pedra esculpida percebo, como dois personagens de uma história, uma cruz e uma estrela datando datas trocadas ao meu ponto de vista.
A cruz, deveria representar o nascimento daquela mãe, sofrida e acabada como tantos crucificados. E a estrela com suas cinco pontas irradiadoras de luz, representaria sua morte, momento de eterno alívio e repouso.
Até hoje não sei se a cena que vi foi real ou não, só sei que vejo, a cada chuva, as gotas darem vida à rosa amarela enraizada ao lado da lápide de uma mulher que conquistou a felicidade.

19.7.10

HOFFMAN Pt. 01

Por Ykaro Venâncio





Os pensamentos de Thaj estavam confusos, olhava para a janela, sentia-se preso, ligou para Sther, pressionado, desmotivado, incontrolado, não sabia o que falar. Ela não atende sua ligação, gerando dentro de si pensamentos agonizantes, depressivos, assustadores, enfim, pegou algumas roupas, alimentos, e uma manta, talvez ainda tivesse um pouco de dinheiro na carteira. Desceu rápido, muito rápido pelas escadas, não quis esperar pelo elevador, uma breve despedida ao porteiro, e pronto, já estava fora do castelo de aço, procurando algumas moedas pagou por uma ligação, não disse o motivo e nem para onde ia, apenas que era preciso, assim ela estaria em segurança. Desligou o telefone, correu por duas quadras, rápido, meio minuto, desapareceu...

Era manhã, sapatos e ternos deslizavam entre os corredores, olhares maliciosos se entrelaçavam, e os telefones não paravam de tocar. Sther, pontualmente, passa pela sala da diretoria, o olhar de Ulisses estava à espera, e mais um dia ele presencia aquele cena desnecessária, tola: o Dr. Hoffman flertando com a recém contratada para a área contábil da empresa. Os olhos de Ulisses entristecem, logo algo o chama para a realidade: - Atenda ao telefone Ulisses! Cristo!
- Ah... Claro senhor Hoffman, me desculpe.
Ulisses era responsável pela área de vendas internas e externas da empresa para clientes multinacionais, conheceu Hoffman em uma feira de vendas onde administradores e estudantes da área se encontram para debaterem idéias e propostas, e em um destes dias Hoffman conheceu Ulisses , recém graduado, bilíngüe e muito astuto, desde então o jovem vêm auxiliando o empresário, o que Hoffman já havia percebido era que sempre que Sther sorria para ele, Ulisses demonstrava certa irritação e um notório ciúme. O que Hoffman não sabia era que, Ulisses, era a paixão de Sther.
- Do que se tratava o telefonema? – pergunta Hoffman
- Uma confirmação de relatório de pesquisa senhor, para o fechamento deste semestre.- responde Ulisses apreensivo.
- Me faz um favor?
-Claro doutor, o que o senhor deseja?
- Vá até Margareth, e diga a ela que eu solicito a presença dela, por favor, aproveite e pegue uma pasta amarela em cima de minha mesa e leve-a para Sther, diga a ela que é sobre os registros atuais da B.I.F.H., ela deve começar esta semana neste setor conosco, então preciso que ela se atualize com as informações mais recentes, o resto ela se adapta com o tempo, ah, já ia me esquecendo, diga a Sther para ligar em meu ramal, por gentileza...
Ulisses pegou a pasta na sala de Hoffman, estava leve, ele não quis imaginar do que se tratava. Saiu, falou com Margareth, enquanto Hoffman o observava de longe de sua sala, observou o momento em que Ulisses se aproximou de Sther, (que ocasionalmente se encontrara no corredor) seu corpo parecia tremer, gesticulava de forma bastante ligeira, parecia querer dizer algo a mais, mas Sther apenas recebeu a pasta e sorriu, enquanto voltava ao trabalho que exercia, enquanto Ulisses logo se dissipou.
- Dr. Hoffman! – Margareth pela terceira vez.
- Ah, sim, nossa, você veio rápido...
Inventou qualquer desculpa e logo se desfez da secretária, o que o intrigava já havia sido esclarecido, mas Ulisses não era uma ameaça, ou era? Era seu amigo, mas agora não pensava nisso, observou as garrafas de uísque, os charutos, o copo vazio, e pensava os carros na avenida, e pensava, como pequenas formigas, e pensava, apanhou um livro, sobre economia, práticas rotineiras administrativas, não sabia, não estava lendo. Apenas pensava, pensava, pensav...

O barulho do chuveiro acalmava, o cenário era o de sempre: bolsa sobre o braço do sofá que sua mãe lhe deu, chaves penduradas, às vezes jogadas, como os sapatos que circulavam pelos cômodos do apartamento, que parecia mais uma sauna durante este mesmo horário de todos os dias da semana, a empresa não abria suas portas nos finais de semana, e neste caso era sexta-feira, e como de costume Sther se preparava para jantar com algumas amigas, reencontrá-las para a velha reunião de sempre.
Nove da noite, Sther se apresenta no Opacus Pub, lá encontrou Sâmara, Veronika, e uma outra conhecida, de quem não se lembrara o nome, mas já havia visto em uma loja de roupas quando estava acompanhada do ex-namorado. Se sentaram, e logo, todas elas já estavam rindo das noticias peculiares da semana de cada uma.
Enquanto isso, em outro lado da cidade, em um subúrbio não muito freqüentado, mais conhecido como, O Lado dos Homens, vagava Thaj, não obtivera sucesso em suas últimas ligações, mas de súbito, pensou em ligar novamente. Discava rápido, o tempo parecia frenético, se encontrava em uma espécie de viela, tudo escuro, não completamente, estava na penumbra, os dedos trêmulos terminavam de discar os últimos números...

Um aparelho celular toca...
Chamada não identificada...
Os olhos se enfurecem, mas ela decide atender...

-Alô!- em um tom um pouco alto, devido às vozes e à musica ambiente.
- E...sou eu Th...
-Eu já sei quem é, o que você quer comigo?!- em tom agora enfurecido
- Olha, eu queria me explicar, não quis sair daquele jeito, mas provavelmente o sindico deve ter comentado como sai às pressas... – interronpido!
- Claro que sim Thaj, ou você acha que ninguém percebeu que você derrubou um vazo na recepção?! Cristo! Você poderia ter me ligado, quer dizer, você não atende minhas ligações, o que ta acontecendo? Desde aquela nossa conversa que você vêm agindo de maneira estranha, eu estou confusa e cansada disso, e você... Sempre com seus segredos, ah, sinceramente eu queria entender...
- Olha me perdoe meu amor, eu quero lhe contar tudo, mas quando você estiv...
-Preparada!- explosão! Raiva!
-Não me ligue mais Thaj! Desapareça!!!- desligou, trêmula.
As amigas a observavam, com um certo ar de quem via a um estranho espetáculo, o bar também se deu ao trabalho, aumentando ainda mais o constrangimento de Sther. Pegou sua bolsa, as lágrimas começavam a cair pelos olhos, sai correndo do bar.
Thaj, olhando por uns minutos para o celular, ainda não entendia o que queria dizer, pegou a carta que recebera há algumas semanas no bolso esquerdo da jaqueta, onde sempre guardava os cigarros, que talvez já nem fumasse mais. Sentou-se em uma por de um apartamento abandonado, a viela, não muito perigosa, apresentava alguns ratos, cachorros, e dois ou três mendigos espalhados pela sólida e gélida calçada, refletindo os mistérios da vida, que os levaram a estar ali hoje, naquela viela sem vida e sem amigos.

-Hoffman!
- Oi, eh... desculpa, mas, droga! –desligou o telefone.
O telefone volta a tocar.
-É alguma gracinha, porque se for eu já to....
-Sou eu, Sther.
- Oh, porque não disse antes minha cara, tudo bem? Boa noite.
-Sim esta, bem, na verdade, não muito, estava no Opacus com umas amigas, e, sei la, queria conversar um pouco, estou atrapalhando?
- Não, sem duvida nenhuma, onde você esta, agora exatamente? – pergunta Hoffman, com certa empolgação.
- Bem, agora estou aqui, do lado de fora, minhas amigas estão lá dentro, e sei lá, queria conversar...
-Olha não saia daí, em um minuto eu chego! – saiu mais do que apressado, afinal, era sua chance, o diretor administrativo não poderia perder isso.

(CONTINUA)

9.7.10

A Nova Aprendiz Parte 01

Por Ykaro Venâncio


Era como se ele sentisse que a chuva era uma parte de si, sentado, ambiente sólido, vazio, a neblina cobria o céu em um tom acinzentado, seus olhos procuravam por mãos inexistentes, estava perto de uma árvore, e o medo da inocência ou incoerência fazia os dentes estalarem, com breves olhares, tinha a impressão de ver vultos. Não, era apenas a brisa gélida vinda do leste, a terra molhada não tinha cheiro a não ser o da própria chuva. Olhos verdes, galhos pelo chão, corpo forte, as lembranças, sim, queimava-lhe a alma, levantou-se olhando para um horizonte nebuloso, pois não havia muito à sua frente se não poeira e chuva, desdenhando-o. Era como se a natureza lhe ignorasse a existência, castigando-o com a solidão incoerente, mas não, ainda havia o corpo dela, por entre o campo que parecia se movimentar tão forte com o vento, que acabava adquirindo aspecto de vida, era como se Gaia se vingasse deste pobre desgraçado, que agora corria aos braços de sua amada, na esperança de vida. Mas ela não se movia, e um corpo vivo é bem diferente de um corpo morto, ele teria presenciado os dois na guerra pra saber disso.
Amargurado, não tinha força sequer para gritar a morte daquela que preenchia o vazio de seus dias, levado pelo vento, que agora se apresentava mais gélido, arriscava-se por entre alguns arbustos, que lhe atrapalhavam a visão sobre forte efeito da ventania, como um sobrevivente tentava se lembrar de como foi parar ali, a forte dor em sua cabeça, tudo continuava em neblinas, inclusive teus pensamentos, que agora se fixavam em lembranças, lembranças de Scarleth, o chão, cada vez mais cheio de pedras, parecia mudar a pintura do cenário que agora se revelava um caminho estreito entre arbustos muito verdes, folhas vívidas aos olhos daquele pobre homem, ouvia-se vozes em sua mente, enquanto ia cambaleando por entre as folhas, mas, com muita dificuldade, enxergava ao fim da trilha uma sombra, talvez vestisse uma capa por cima do corpo, não sabia se era um homem, não sabia se era um fantasma de seu passado, ou algum tipo de alucinação. O vento soprava forte em teus ouvidos, e se fundia à voz de Scarleth, o caminho parecia não se findar, e estava caindo, caindo. A chuva, impiedosa e frenética se fez voraz, a natureza não estava calma, via ali um corpo caído em meio tuas árvores, porque estava vivo? Ninguém saberia responder, se o vilarejo havia sido destruído, e por mais que aquele pobre homem se esforçasse, não conseguia lembrar o porquê e quando ocorrera o fato, mas sabia que o que ocorrera era recente, o corpo de Scarleth acusava o fato, ainda pôde sentir o ultimo calor vindo de seus seios, os últimos fluxos de seu sangue entre o corpo...

24.6.10

A Volta ao Mundo em Atlas, parte 03

- Vovô! – gritou Liliana, correndo na direção de seu avô.
- Quem é você? – perguntou o velho, ainda bravo com os possíveis “invasores”.
- Sou eu, vovô, a Liliana! – disse a menina.
- Vovô, não se lembra de nós? – perguntou Sophia.
- Ah, você é a Liliana? Da última vez que te vi, eras um bebê. – disse Ludovico. – E vocês dois eram pequenas crianças.
- É, nós crescemos… – disse Sophia.

Henry não deu muita atenção ao velho. Estava mais interessado em subir no balão.

- Ei garoto! O que fazes aí? Saia já daí! – disse Ludovico, indo na direção de Henry.
- Calma, vovô. O Henry só gostou do seu balão. – disse Sophia, tentanto protejer o menino.
- Pois bem. Não quero saber de vocês aprontando cm meu balão! Nem você, Henry. Fiquemj sabendo que levei muito tempo para construí-lo e se fizerem algo com ele. mando vocês de volta para sua mãe.
- Esrá bem, vovô. Prometemos que não faremos nada com seu balão, não é, Henry? – disse Liliana.
- Esta bem… – disse o menino, em tom de decepção.

O velho levou as crianças para dentro da casa. Era um casarão antigo e cinzento. Subiram as escadas, cujos degrais rangiam de velhice. No andar de cima, Ludovico mostrou a seus netos em que quartos ficariam. Sophie e Liliana ficaram com um quarto de duas camas e um guarda-roupa antigo. A Henry restou um quarto pequeno, com apenas uma cama e um baú. Mas para o garoto, estava perfeito, pois a única janela do quarto mostrava extamente a vista do balão, imponente no meio do jardim.

Henry desfez suas malas, guardando seus pertences no baú, mas não parava de olhar para o balão. Aquela obra colorida, realmente chamava a atenção em meio ao cenário monocromático e triste da propriedade.

Mais tarde, Sophie e Liliana entraram no quarto para ver se o garoto já estava bem instalado.

- Você não esquece esse balão, não é mesmo? – perguntou Sophia.
- Não. Algo me diz que um dia voarei dentro dele. Só espero que esse dia não demore muito para chegar.
- Mas Henry, o vovô pediu para termos cuidado com o balão. – disse Liliana, preocupada.
- Não se preocupe. Eu cuidarei desse balão.

Ao anoitecer, Ludovico gritou pelos três netos, pois estava na hora do jantar. Ao descerem a velha escadaria, sentiram cheiro da comida que o velho preparára. Era uma espécie de sopa. Não muito apetitosa…

Henry viu aquilo em seu prato e realmente se arrependeu de ter ido passar as férias ali. Era uma sopa meio gosmenta e numa cor um tanto… Não poderei descrever de tão estranha que era.

Sophia tentava agradar seu avô, elogiando a sopa, enquanto Liliana simplesmente tentava comer.

- É bom gostarem disso, pois é isso que comeram nas próximas semanas de férias. – disse Ludovico, sem nem tirar os olhos do prato.
- É bom, vovô… – disse Sophie, tentanto elogiá-lo.

Após o jantar, os netos subiram até o quarto das meninas.

- Sophia, como você conseguiu comer aquilo? – perguntou Henry.
- Ah, meu irmão, você tem que aprender a ser mais discreto. Veja Liliana, ela não reclamou de nada.
- Só por que o vovô estava olhando… – disse a irmã caçula.

Ah, não importa. – disse Sophia. – Sabem de uma coisa? Acho que já está na hora de dormirmos. Aconteceu muita coisa hoje. Boa noite, irmãos.

Sophia foi para sua cama, Liliana também. Henry foi para seu quarto. Ao deitar-se, não conseguia dormir. Pensava, pensava e pensava tanto que seus olhos não se fechavam por mais de 2 minutos.

Levantou-se, foi para a janela, abriu as cortinas e lá estava o balão, perdido, no meio da noite escura.

- Ah… Um dia, eu e você voaremos por este céu e conheceremos muitos lugares novos…

Continua…

Sempre Nunca

Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
E assim sempre será.

Sem mais erros para cometer e corações para destruir.
Sem lágrimas para perder e câmeras digitais para sorrir.
Sem mais dinheiro para ver, sem mais frio para sentir.
Nunca mais verá uma fila de fast food gigante
Ou dividirá um guarda-chuva rosa,
Nem passará por uma situação preocupante
Como bem uma preciosa.

Para um corpo precipitado,
O outro estagnado
Vai passar.
A areia soprar.
Vamos voar.

Seus corações não são de metal, seus idiotas.