29.11.09

O sorriso da Dor

Finjamos assim:
Sou um claustrofóbico
E você... e você é
Um construtor de paralelepípedos ocos.

Se eu sofrer por isto
Você me abre ao menos uma fresta?
Se eu fugir das paredes
E dormir sob a chuva
Você me acompanha?

Todavia, se eu sentir dor
A culpa é minha?
Nunca notei o quão sádico
E dissimulado você era e é.
Ainda assim gosto do seu sorriso maroto.

Sente? São lástimas?
Não, ainda não.
É meu choro de Amor
E seu sorriso de Dor.
Conexão instável e infindável.

25.11.09

Candura

As ovelhas cândidas duram assim quando estão sob o sol.
Elas, funestas nos sonhos noturnos,
Ceifam almas, manchando-se no mel rubro
E doce.

Quando estão fora de si, brancas,
Sentem saudades dos sonhos,
Das cabeças decapitadas,
Dos berros chorosos e esmigalhados.

Narcisistas formosos
Em trajes sórdidos,
Apreciam os hematomas
Antes não do sangue,
sangue carmesim.

Mas sempre voltam a refletir todas as cores,
Deixam de absorver o vermelho
Que sujava a lã.
E o branco volta.
O branco da lã.

18.11.09

# 02 - A infame estreia do assassino letrado

(Desculpem-me... não consegui enxugar o texto. Está um pouco encharcado ainda.)

***

Rodney Smith admirava a fachada do bar que costumeiramente frequenta. Uma fachada um tanto feia – talvez por isso não tenha patrocínios. Pela quinta vez, desde que saíra do seu escritório, pensou que não devia ter atendido ao chamado de seu informante. Devia estar se concentrando no caso de Margot. Ou não devia estar fazendo nada, o que parecia ser uma alternativa válida.

Enfim, suspirou e entrou no bar estreito, com um balcão na transversal que se extendia por cerca de metade do tamanho total da área comum. Marlene, a garçonete/proprietária, secava um caneco de chopp. Ela tinha um ligeiro problema em acreditar que eles nunca estavam secos o suficiente, o que incomodava os ébrios que sentavam nos banquinhos altos, ancorados ao longo do balcão com tampo de mármore falso. “Pra quê secar tanto se vamos beber mais chopp aí?”, diziam eles. Ela respondia com palavras chulas. Eles se calavam e lembravam que Marlene se esquecia de cobrar pelas bebidas na maioria das vezes, então a demora era compensada financeiramente.

Smith sentou-se ao lado de um palhaço. O único lugar disponível era ao lado desse pobre palhaço. Ele simplesmente não suportava o maldito palhaço e seus cabelos ciano, nariz vermelho e cara pintada de branco. Mas o pior de tudo certamente era o sorriso amarelo - em todos os sentidos - emoldurado pela pintura labial vermelha (“É para combinar com o nariz...”, o palhaço dizia anasaladamente. Sempre).

“Alô, Rudinei”

“É Rodney”

“Certo, Rudi... ou tu... ou tu prefere que eu te chame de Smiti?”

“...”

Rodney Smith levantou-se e pegou o palhaço pelo colarinho; o ergueu e o jogou contra a parede oposta. O palhaço, enraivecido, pegou um taco de snook (sem giz na ponta) e investiu contra o detetive; este aparou o taco com o braço esquerdo e desferiu um cruzado de direita certeiro no nariz vermelho de seu oponente, que desabou no chão, desnorteado. Ao ver o sangue escorrer sobre a maquiagem branca do palhaço, disse:

“O vermelho do sangue combina com o nariz, também”

Bem, é claro que essa briga de bar com frase feita malfeita não aconteceu. Mas teria sido muito relaxante, pensou Smith. O palhaço, enquanto isso, apenas pensava que devia largar o escritório e viajar para uma praia bem quente. Viver da venda de cocos. Mas não era capaz de comprar seu sonho.

Aliás, por que maldito motivo ele tinha esse maldito nome, Rodney Smith? Morando em um país lusófono, isso era realmente insuportável. Se fosse só o nome, como Rodney Silva, poderia ser chamado só pelo sobrenome... Detetive Silva. Se tivesse conhecido seus pais, pelo menos, poderia perguntar aos cretinos. Sim, ele realmente não gostava do nome, por isso já instruia quem ele conseguia convencer a chamá-lo de Ney.

Marlene, a garçonete/proprietária/secadora de copos com péssima memória recente, olhou para Rodney e fez um aceno de cabeça – ou de nariz, já que este era a parte proeminente de sua cabeça –, indicando o fundo do bar, onde haviam duas mesas de snook. O Informante já devia estar lá. O único motivo para Smith ir neste bar decrépito era o fato de que seu principal informante só aceitava se encontrar com ele aqui.

Era ele mesmo: um homem sob a luz fraca de uma luminária que pendia do teto, característica de mesas de snook. O Informante vestia um terno cáqui e tinha em sua cabeça um saco de papel pardo, com dois furos para os olhos. Essa era a máscara que assegurava o segredo de sua identidade. Os outros clientes do bar já haviam se acostumado, nem estranhavam mais. Agora o estranho da vez era aquele sujeito que contava piadas de ervilhas. Péssimas piadas, diga-se de passagem.

“Sr. R. S., que prazer em vê-lo mais uma vez”, disse o Informante.

R. S. conseguia ser pior do que Rodney Smith.

“Ah, e bela gravata!”, completou enquanto Ney notava que as gravatas dos dois eram verde-musgamente iguais.

“Olá, Sr. S. I.”, respondeu Smith com o máximo de ânimo que pôde expressar, ou seja, quase nenhum ânimo.

O Informante começou a mirar na bola verde menor, enquanto Smith escolhia um taco. Qualquer um mesmo, não gostava de jogar esse jogo. Não gostava desse lugar e muito menos de piadas de ervilhas (“O que a ervilha neta falou para a ervilha avó? Ela disse: Não ligo a mínima para sua artrite, sua ervelha!”).

(Durante esta conversa, os caros leitores podem adicionar, em sua própria imaginação, o som do jogo de snook. Vocês sabem; barulho de taco, bola, caçapa, etc. Podem adicionar alguma música ambiente também, de preferência algo instrumental, para que a letra não interfira nas falas do diálogo. Ou cantado em russo, desde que, obviamente, o leitor não entenda russo)

“Tenho uma pista quente para você desta vez, Sr. R. S”, disse enquanto errava a bola verde e encaçapava a marrom e a amarela, em sequência. “Nesta vez não será como aquela do mercado de órgãos...”

Smith lançou um olhar faiscante em direção ao homem com cara de papel kraft. Quase tão faiscante a ponto de quase incendiar a máscara do informante e disse, entre os dentes:

“Mercado de pianos, você quis dizer...”

“Não me olhe desse jeito, aquele anúncio era suspeito! Como eu ia saber? “Após um breve momento de silêncio, o Sr. S. I. retomou o assunto: “Ok, Sr. R. S., lhe darei a informação que eu havia prometido. Teremos um caso de assassino serial.”

“Teremos?”

“Sim. Tenho certeza que o assassino irá matar novamente. Eu vi o corpo da vítima no necrotério.”

“O que você fazia no necrotério?”

“Eu jogo cartas no necrotério, com o Branco... você lembra do Branco né?”

“Sim, prossiga, por favor, quem é a vítima?”.

“Uma mulher, 23 anos de idade. Veio do Vale dos Sinos para visitar familiares. No entanto, foi assassinada brutalmente”

“A que tipo de brutalidade você se refere?”

“Aparentemente... ela foi espancada até a morte, com muitos golpes de livro”

“Estás me dizendo que mataram ela a livradas?”

“Bem, não encontraram o livro, mas creio que seja um dicionário, dos grandes. Com setenta mil verbetes, no mínimo”.

“E por que diabos tu acha que isso se trata de um assassino serial?

“O assassino fez uma marca na testa dela, com algum tipo de instrumento cortante.”

O Informante pegou um giz que estava pousado sobre a caçapa de uma das quinas da mesa e desenhou um rudimento de "v", que mais parecia um 'check'.

“Intrigante, mas isso tem cara de história que irá me dar prejuízo. Estou quebrado, acho que irei apostar no caso da Margot...”

“A francesa dona da fábrica de sabão... e qual é o caso dela?”

“O poodle dela sumiu, junto com a coleira de ouro.”

“Poodles e joias... não acredito que você irá preferir pegar um caso tão comum com a possibilidade de abraçar um caso de serial killer! Qual foi a última vez que o senhor viu um caso desses aqui na área?”

“A polícia que cuide disso, sou um mero civil que procura poodles para mulheres ricas. Além disso, quem garante que não foi apenas um crime passional? Claramente o livro foi uma arma improvisada.”

“E a marca? Tens alguma ideia?”

“Não. Mas eu precisaria ver isso com os meus próprios olhos. Pode ser a inicial do criminoso, ou talvez algo que faça sentido para ambos, assassino e assassinada.”

“Interessante. Creio que se o senhor assassinasse alguém, seria um ato passional, no calor de um momento de ira, contida há muito tempo”

“Como assim? O que te faz pensar isso?”

“As pessoas costumam olhar para os outros da mesma forma que olham para si mesmo. E para escrever também, pois se, por exemplo, estivéssemos vivendo uma história fictícia, o autor provavelmente seria um tipo similar de assassino, já que ele seria inexperiente com histórias de investigação e apenas conseguiria imaginar modos e motivos para matar nos quais ele conseguiria se imaginar, supondo esta hipótese.”

“Ok, pode me prender como futuro serial killer. E é muito simples imaginar um assassino armado com um dicionário, não sei como isso nunca me ocorreu antes. Prenda o autor também mas, caso o ele seja preso, teremos um grave problema de continuidade. A menos que ele continue a escrever na prisão.”

O Sr. S. I. fingiu ignorar o sarcasmo de Smith.

“Bem mas, se mudares de ideia, passe no necrotério, jogue umas partidas de pife comigo e com o Branco e aproveite para olhar o corpo da vítima.”

“Estranho você me convidar para algum lugar que não este bar decadente.”

“Precisamos pegar este caso... aqui, fique com o meu cartão. Com ele, o porteiro irá te deixar passar no necrotério.”

Rodney Smith recebeu o seguinte cartão:



“Que cartão mais estranho... isso... ahn, deixa pra lá. Amanhã eu passarei lá, com uma condição.”

“Qual, Sr. R. S.?”

“De agora em diante, me chame por Ney.”, disse o detetive enquanto virava as costas e se preparava para ir embora.

“Certo, Sr. Ney. Ah, e outra coisa... sei que não é da minha conta mas... ontem eu vi a sua secretária conversando com um brutamontes, em um beco. Achei um tanto suspeito.”

“Deposito total confiança em Dolores. Ela é muito responsável e vem trabalhando comigo há algum tempo. Se ela fosse suspeita, eu já teria notado.”

“Certo, me desculpe pelo comentário... espero você amanhã.”

5.11.09

Um pouco de poesia pra esse lugar...

Ontem, dia 04 de novembro de 2009, completei 1 ano de namoro.
Além do presentinho barato e tals, resolvi compor algo pra ela (coisa que tinha tempo que eu não fazia). Não é boa, só fala de pontos comuns, mas quem liga? Era pra ela e ela gostou. ^_^
Aí vai:

Após 1 ano

Se o Sol não raiar a cada manhã,
acenderemos as luzes.
Se as nascentes não jorrarem mais água,
Riremos o sal do mar.
Se o mundo acabar, no paraíso viveremos.
Mas se você não me amar,
Estarei condenado ao inferno seco e escuro
que é estar sem seu amor.

Não sei como eu vivia antes de você.
Sei que vivia pra te conhecer,
apesar de que sem você
eu não sabia o que é realmente viver.

O ano se passou
e cada vez mais meu coração se apaixonou.
Outros anos se passarão
E frutos desse amor surgirão.

E se afirmo isso com certeza,
é porque certeza eu tenho
que és o amor da minha vida
e que seu amor por mim não finda

Não antes do juízo final
e que o último a sair apague a luz.
Aí ficaremos juntinhos,
abraçados no eterno escurinho.


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Jordan (O Visitante)