5.8.10

Cap.03 - Silêncio

Correr. Correr para onde? Taní não tinha ideia do que se passava na cabeça de Ipu, mas acima de tudo, não tinha ideia de onde estavam indo. A floresta verde- esmeralda, aos poucos, foi se ofuscando até céu e floresta se confundirem com o negro. Enquanto corria, ela tentava reaver memórias ou qualquer coisa que explicasse sua atual situação. "Taní... Isso não é real. Não posso ser essa tal pessoa. como eu cheguei aqui??". Sua linha de pensamento logo foi interrompida por Ipu e logo se deparou com uma grande árvore. Ipu soltou a sua mão e foi ao encontro da árvore. Se aproximou, fechou os olhos e encostou a cabeça no tronco e assim permaneceu por algum tempo. Taní o observava. Parecia estar rezando, falando consigo mesmo. Taní se espantou ao observar que as folhas da árvore começaram a reluzir, mostrando sua verdadeira cor: Vermelha. As luzes das folhas seguiam em um fluxo continuo até a cabeça de Ipu, que parecia absorver aquelas luzes. Ipu levantou a cabeça da árvore e disse baixinho:"Obrigado".
Uma pequena luz se soltou da árvore e tocou a fronte de Taní e seus pensamentos começaram a se abrir, como um raio tentando escapar de uma caixa fechada. Taní soutou um pequeno gemido de dor, Ipu se aproximou, tentando acudi-la.
- Taní, você está sentido alguma coisa? Está ferida?
- Não, eu estou bem, assentiu com a cabeça.
Ipu não percebeu, mas aquela pessoa deixou ainda mais de ser Taní , entretanto, tomou mais consciência da situação em que estava.
"Se eu seguir como o dito. eu posso voltar! Tudo voltará ao normal!" Pensou Taní, entusiasmada. "Mas...eu não sei como termina..." Um ar de desapontamento tomou o lugar do sorriso.
- Taní, me desculpe por te trazer aqui - disse Ipu cabisbaixo, quebrando novamente a linha de pensamento de Taní - Mas eu precisava consultar o Silêncio. Ele sempre me diz o que fazer...
- Silêncio? - Interrompeu Taní
- Sim, a árvore Silêncio sempre nos diz o que fazer quando estamos com o coração e a mente cheios de dúvidas. É um lugar proibido para mulheres, mas eu tinha pressa em consultar ele. - Ipu, antes terno, agora, parecia sério, com o olhar decisivo. - E ele me deu uma resposta.
Meio receosa, Taní perguntou:
- Então... o que ele te respondeu??
- Pediu para eu seguir os instintos do meu coração. E é por isso que eu digo: Se você é um Astral maligno, mate-me. Não brinque comigo. Acabe com o sofrimento desde ser que não aguenta ser enganado por seres como você. Faça a grande árvore silêncio, meu túmulo. Nada me faria mais feliz.
Taní ficou sem reação...

--FIm do cap. 03--

4.8.10

A Volta ao Mundo em Atlas, parte 04

Henry pensava no balão gigante todos os dias. Quando o vira pela primeira vez, aquilo logo lhe chamou a atenção. Será que tinha o mesmo gosto que seu avô?

Alguns dias se passaram, e a vida na propriedade de Ludovico era calma para o velho, e chata para os seus netos. Apenas Sophia conseguia se distrair, lendo alguns livros que trouxera de casa. Henry e Liliana tentavam brincar, mas seu avô não permitia que corressem pela casa ou fizessem bagunças.

- Sabe o que devíamos fazer? – perguntou Henry. – Devíamos viajar a bordo desse balão. Conhecer o mundo todo. O que me diz?
- Não acho uma boa idéia, Henry. Não quero zangar o vovô. – respondeu Liliana.
- Não vamos zangar ninguém. Venha, vamos encontrar o tal livro de balonismo dele.

Henry e Liliana vasculharam a biblioteca de seu avô. Nela havia livros dos mais diferentes lugares, diferentes línguas e gêneros. Sophia, que estava em seu quarto, ouvira o barulho e foi até o cômodo checar o que estava acontecendo.

- O que vocês dois estão fazendo na biblioteca? Não é o melhor lugar para brincadeiras… – disse a irmã mais velha.
- Não estamos brincando. Quero achar o livro de balonismo do vovô.
- Mas por que? Não vá me dizer que pretendes viajar naquele balão?
- Claro que sim! É a única coisa boa que tem para se fazer aqui, Sophia.
- Mas Henry, o vovô pediu para ficar-mos longe daquele balão…
- Vocês vem comigo ou vão me deixar ir sozinho? Olha que mesmo tendo apenas treze anos, eu vou!
- Ai, vamos encontrar logo esse livro para ver se você esquece um pouco…

Os três irmãos se puseram a procurar o tal livro de balonismo. Sophia se encantou com o acervo que seu avô tinha e ela nem conhecia. Havia clássicos da literatura internacional, de grandes romances a emocionantes aventuras e jornadas heróicas.

Liliana também se empolgou. Apesar de serem livros antigos, o que lhe chamava a atenção era a arte, as ilustrações e as belas capas de cada publicação. Dentre outros livros, numa prateleira, um deles gritava aos seus olhos. Era um livro de capa dourada, toda trabalhada, que mesmo na sombria biblioteca, brilhava divinamente.

- Henry, será que é aquele livro? – perguntou a caçula.
- Veja se é ele, oras… – disse Henry.

Liliana foi até o livro, mas a medida que se aproximava dele, sentia um aperto em seu coração, uma sensação esquisita, como se algo dissesse para não chegar perto.

Mas a menina tinha uma força de vontade tão grande quanto a de seu irmão, e foi se aproximando do livro. Ao tocar nele, quase sentiu uma tontura. O livro era pesado e aparentemente, muito nobre. Liliana passou trabalho para segurar o livro, que tinha muitas páginas e uma capa grossa.

A menina levou o livro até a mesa mais próxima e examinou sua capa. Nela, havia apenas escrita a palavra “Atlas”, em letras trabalhadas e aparentemente manuscritas.

- Henry, o que é “Atlas”?
- Atlas é um livro de mapas, de vários lugares do mundo. – respondeu Sophia.
- Olhem esse aqui! É muito bonito! – disse a caçula.
- Isso é bom! Guarde esse livro por que, se vamos dar uma volta ao mundo, precisamos de um atlas. – disse Henry. – agora continuem a procurar o livro de balonismo.

Sophie deixou o livro sobre a mesa e voltou às prateleiras. Porém, agora, o livro parecia chama-la. Toda vez que olhava para ele, sentia vontade de toca-lo, viajar por suas páginas. Mas tinha que encontrar o livro para seu irmão. Isso era o mais importante naquela hora.

- Achei! – gritou Sophia. – É esse livro?
- É esse sim! – disse Henry, logo indo pegar o livro que trazia a imagem de um balão semelhante ao de seu avô na capa. – Agora vou ler tudo para poder viajar! Vai ser uma grande aventura! preparem-se, minhas companheiras!

Henry logo saiu da biblioteca e foi correndo para seu quarto, levando o livro consigo. Sophia também escolhera um romance que lhe interessou, disse umas duas palavras à Liliana e também foi ao seu quarto para ler.

Apenas a caçula ficara na biblioteca, e mesmo que houvessem dezenas, talvez centenas de livros ali, parecia haver apenas um, o tal “Atlas”.

O livro dourado e imponente atraia seus olhos. Liliana quis aproximar-se dele novamente. Quando estava prestes a toca-lo…

Continua…

24.7.10

Entre a Cruz e a Estrela

Me encontro onde os mortos repousam, onde vejo pessoas sofridas molharem as lápides com as lágrimas de suas saudades. Frias, imponentes e gélidas, as lápides estão fincadas no terreno, surgindo da terra como galhos secos sinalizando que sua vida terrena se esvaiu.
Foi quando uma criança, segurando uma rosa amarela resém arrancada, senta e olha para lápide de sua mãe como quem olha para um passado infinito.
Eu observava de longe, lembrando da foto fixada na lápide, de uma mulher maltratada, velha e cansada da vida. Vejo a mesma mulher jovem, feliz, uma mulher que encontrou no espelho da morte seu rosto perdido em vida.
Choro. Em seguida enxugo as lágrimas rapidamente, tempo suficiente para que mãe e filha desapareçam. Só a lápide estava lá, como um Guarda Roupa Alemão me chamando, parecendo guardar um segredo. Quando fico cara a cara com a pedra esculpida percebo, como dois personagens de uma história, uma cruz e uma estrela datando datas trocadas ao meu ponto de vista.
A cruz, deveria representar o nascimento daquela mãe, sofrida e acabada como tantos crucificados. E a estrela com suas cinco pontas irradiadoras de luz, representaria sua morte, momento de eterno alívio e repouso.
Até hoje não sei se a cena que vi foi real ou não, só sei que vejo, a cada chuva, as gotas darem vida à rosa amarela enraizada ao lado da lápide de uma mulher que conquistou a felicidade.

19.7.10

HOFFMAN Pt. 01

Por Ykaro Venâncio





Os pensamentos de Thaj estavam confusos, olhava para a janela, sentia-se preso, ligou para Sther, pressionado, desmotivado, incontrolado, não sabia o que falar. Ela não atende sua ligação, gerando dentro de si pensamentos agonizantes, depressivos, assustadores, enfim, pegou algumas roupas, alimentos, e uma manta, talvez ainda tivesse um pouco de dinheiro na carteira. Desceu rápido, muito rápido pelas escadas, não quis esperar pelo elevador, uma breve despedida ao porteiro, e pronto, já estava fora do castelo de aço, procurando algumas moedas pagou por uma ligação, não disse o motivo e nem para onde ia, apenas que era preciso, assim ela estaria em segurança. Desligou o telefone, correu por duas quadras, rápido, meio minuto, desapareceu...

Era manhã, sapatos e ternos deslizavam entre os corredores, olhares maliciosos se entrelaçavam, e os telefones não paravam de tocar. Sther, pontualmente, passa pela sala da diretoria, o olhar de Ulisses estava à espera, e mais um dia ele presencia aquele cena desnecessária, tola: o Dr. Hoffman flertando com a recém contratada para a área contábil da empresa. Os olhos de Ulisses entristecem, logo algo o chama para a realidade: - Atenda ao telefone Ulisses! Cristo!
- Ah... Claro senhor Hoffman, me desculpe.
Ulisses era responsável pela área de vendas internas e externas da empresa para clientes multinacionais, conheceu Hoffman em uma feira de vendas onde administradores e estudantes da área se encontram para debaterem idéias e propostas, e em um destes dias Hoffman conheceu Ulisses , recém graduado, bilíngüe e muito astuto, desde então o jovem vêm auxiliando o empresário, o que Hoffman já havia percebido era que sempre que Sther sorria para ele, Ulisses demonstrava certa irritação e um notório ciúme. O que Hoffman não sabia era que, Ulisses, era a paixão de Sther.
- Do que se tratava o telefonema? – pergunta Hoffman
- Uma confirmação de relatório de pesquisa senhor, para o fechamento deste semestre.- responde Ulisses apreensivo.
- Me faz um favor?
-Claro doutor, o que o senhor deseja?
- Vá até Margareth, e diga a ela que eu solicito a presença dela, por favor, aproveite e pegue uma pasta amarela em cima de minha mesa e leve-a para Sther, diga a ela que é sobre os registros atuais da B.I.F.H., ela deve começar esta semana neste setor conosco, então preciso que ela se atualize com as informações mais recentes, o resto ela se adapta com o tempo, ah, já ia me esquecendo, diga a Sther para ligar em meu ramal, por gentileza...
Ulisses pegou a pasta na sala de Hoffman, estava leve, ele não quis imaginar do que se tratava. Saiu, falou com Margareth, enquanto Hoffman o observava de longe de sua sala, observou o momento em que Ulisses se aproximou de Sther, (que ocasionalmente se encontrara no corredor) seu corpo parecia tremer, gesticulava de forma bastante ligeira, parecia querer dizer algo a mais, mas Sther apenas recebeu a pasta e sorriu, enquanto voltava ao trabalho que exercia, enquanto Ulisses logo se dissipou.
- Dr. Hoffman! – Margareth pela terceira vez.
- Ah, sim, nossa, você veio rápido...
Inventou qualquer desculpa e logo se desfez da secretária, o que o intrigava já havia sido esclarecido, mas Ulisses não era uma ameaça, ou era? Era seu amigo, mas agora não pensava nisso, observou as garrafas de uísque, os charutos, o copo vazio, e pensava os carros na avenida, e pensava, como pequenas formigas, e pensava, apanhou um livro, sobre economia, práticas rotineiras administrativas, não sabia, não estava lendo. Apenas pensava, pensava, pensav...

O barulho do chuveiro acalmava, o cenário era o de sempre: bolsa sobre o braço do sofá que sua mãe lhe deu, chaves penduradas, às vezes jogadas, como os sapatos que circulavam pelos cômodos do apartamento, que parecia mais uma sauna durante este mesmo horário de todos os dias da semana, a empresa não abria suas portas nos finais de semana, e neste caso era sexta-feira, e como de costume Sther se preparava para jantar com algumas amigas, reencontrá-las para a velha reunião de sempre.
Nove da noite, Sther se apresenta no Opacus Pub, lá encontrou Sâmara, Veronika, e uma outra conhecida, de quem não se lembrara o nome, mas já havia visto em uma loja de roupas quando estava acompanhada do ex-namorado. Se sentaram, e logo, todas elas já estavam rindo das noticias peculiares da semana de cada uma.
Enquanto isso, em outro lado da cidade, em um subúrbio não muito freqüentado, mais conhecido como, O Lado dos Homens, vagava Thaj, não obtivera sucesso em suas últimas ligações, mas de súbito, pensou em ligar novamente. Discava rápido, o tempo parecia frenético, se encontrava em uma espécie de viela, tudo escuro, não completamente, estava na penumbra, os dedos trêmulos terminavam de discar os últimos números...

Um aparelho celular toca...
Chamada não identificada...
Os olhos se enfurecem, mas ela decide atender...

-Alô!- em um tom um pouco alto, devido às vozes e à musica ambiente.
- E...sou eu Th...
-Eu já sei quem é, o que você quer comigo?!- em tom agora enfurecido
- Olha, eu queria me explicar, não quis sair daquele jeito, mas provavelmente o sindico deve ter comentado como sai às pressas... – interronpido!
- Claro que sim Thaj, ou você acha que ninguém percebeu que você derrubou um vazo na recepção?! Cristo! Você poderia ter me ligado, quer dizer, você não atende minhas ligações, o que ta acontecendo? Desde aquela nossa conversa que você vêm agindo de maneira estranha, eu estou confusa e cansada disso, e você... Sempre com seus segredos, ah, sinceramente eu queria entender...
- Olha me perdoe meu amor, eu quero lhe contar tudo, mas quando você estiv...
-Preparada!- explosão! Raiva!
-Não me ligue mais Thaj! Desapareça!!!- desligou, trêmula.
As amigas a observavam, com um certo ar de quem via a um estranho espetáculo, o bar também se deu ao trabalho, aumentando ainda mais o constrangimento de Sther. Pegou sua bolsa, as lágrimas começavam a cair pelos olhos, sai correndo do bar.
Thaj, olhando por uns minutos para o celular, ainda não entendia o que queria dizer, pegou a carta que recebera há algumas semanas no bolso esquerdo da jaqueta, onde sempre guardava os cigarros, que talvez já nem fumasse mais. Sentou-se em uma por de um apartamento abandonado, a viela, não muito perigosa, apresentava alguns ratos, cachorros, e dois ou três mendigos espalhados pela sólida e gélida calçada, refletindo os mistérios da vida, que os levaram a estar ali hoje, naquela viela sem vida e sem amigos.

-Hoffman!
- Oi, eh... desculpa, mas, droga! –desligou o telefone.
O telefone volta a tocar.
-É alguma gracinha, porque se for eu já to....
-Sou eu, Sther.
- Oh, porque não disse antes minha cara, tudo bem? Boa noite.
-Sim esta, bem, na verdade, não muito, estava no Opacus com umas amigas, e, sei la, queria conversar um pouco, estou atrapalhando?
- Não, sem duvida nenhuma, onde você esta, agora exatamente? – pergunta Hoffman, com certa empolgação.
- Bem, agora estou aqui, do lado de fora, minhas amigas estão lá dentro, e sei lá, queria conversar...
-Olha não saia daí, em um minuto eu chego! – saiu mais do que apressado, afinal, era sua chance, o diretor administrativo não poderia perder isso.

(CONTINUA)

9.7.10

A Nova Aprendiz Parte 01

Por Ykaro Venâncio


Era como se ele sentisse que a chuva era uma parte de si, sentado, ambiente sólido, vazio, a neblina cobria o céu em um tom acinzentado, seus olhos procuravam por mãos inexistentes, estava perto de uma árvore, e o medo da inocência ou incoerência fazia os dentes estalarem, com breves olhares, tinha a impressão de ver vultos. Não, era apenas a brisa gélida vinda do leste, a terra molhada não tinha cheiro a não ser o da própria chuva. Olhos verdes, galhos pelo chão, corpo forte, as lembranças, sim, queimava-lhe a alma, levantou-se olhando para um horizonte nebuloso, pois não havia muito à sua frente se não poeira e chuva, desdenhando-o. Era como se a natureza lhe ignorasse a existência, castigando-o com a solidão incoerente, mas não, ainda havia o corpo dela, por entre o campo que parecia se movimentar tão forte com o vento, que acabava adquirindo aspecto de vida, era como se Gaia se vingasse deste pobre desgraçado, que agora corria aos braços de sua amada, na esperança de vida. Mas ela não se movia, e um corpo vivo é bem diferente de um corpo morto, ele teria presenciado os dois na guerra pra saber disso.
Amargurado, não tinha força sequer para gritar a morte daquela que preenchia o vazio de seus dias, levado pelo vento, que agora se apresentava mais gélido, arriscava-se por entre alguns arbustos, que lhe atrapalhavam a visão sobre forte efeito da ventania, como um sobrevivente tentava se lembrar de como foi parar ali, a forte dor em sua cabeça, tudo continuava em neblinas, inclusive teus pensamentos, que agora se fixavam em lembranças, lembranças de Scarleth, o chão, cada vez mais cheio de pedras, parecia mudar a pintura do cenário que agora se revelava um caminho estreito entre arbustos muito verdes, folhas vívidas aos olhos daquele pobre homem, ouvia-se vozes em sua mente, enquanto ia cambaleando por entre as folhas, mas, com muita dificuldade, enxergava ao fim da trilha uma sombra, talvez vestisse uma capa por cima do corpo, não sabia se era um homem, não sabia se era um fantasma de seu passado, ou algum tipo de alucinação. O vento soprava forte em teus ouvidos, e se fundia à voz de Scarleth, o caminho parecia não se findar, e estava caindo, caindo. A chuva, impiedosa e frenética se fez voraz, a natureza não estava calma, via ali um corpo caído em meio tuas árvores, porque estava vivo? Ninguém saberia responder, se o vilarejo havia sido destruído, e por mais que aquele pobre homem se esforçasse, não conseguia lembrar o porquê e quando ocorrera o fato, mas sabia que o que ocorrera era recente, o corpo de Scarleth acusava o fato, ainda pôde sentir o ultimo calor vindo de seus seios, os últimos fluxos de seu sangue entre o corpo...

24.6.10

A Volta ao Mundo em Atlas, parte 03

- Vovô! – gritou Liliana, correndo na direção de seu avô.
- Quem é você? – perguntou o velho, ainda bravo com os possíveis “invasores”.
- Sou eu, vovô, a Liliana! – disse a menina.
- Vovô, não se lembra de nós? – perguntou Sophia.
- Ah, você é a Liliana? Da última vez que te vi, eras um bebê. – disse Ludovico. – E vocês dois eram pequenas crianças.
- É, nós crescemos… – disse Sophia.

Henry não deu muita atenção ao velho. Estava mais interessado em subir no balão.

- Ei garoto! O que fazes aí? Saia já daí! – disse Ludovico, indo na direção de Henry.
- Calma, vovô. O Henry só gostou do seu balão. – disse Sophia, tentanto protejer o menino.
- Pois bem. Não quero saber de vocês aprontando cm meu balão! Nem você, Henry. Fiquemj sabendo que levei muito tempo para construí-lo e se fizerem algo com ele. mando vocês de volta para sua mãe.
- Esrá bem, vovô. Prometemos que não faremos nada com seu balão, não é, Henry? – disse Liliana.
- Esta bem… – disse o menino, em tom de decepção.

O velho levou as crianças para dentro da casa. Era um casarão antigo e cinzento. Subiram as escadas, cujos degrais rangiam de velhice. No andar de cima, Ludovico mostrou a seus netos em que quartos ficariam. Sophie e Liliana ficaram com um quarto de duas camas e um guarda-roupa antigo. A Henry restou um quarto pequeno, com apenas uma cama e um baú. Mas para o garoto, estava perfeito, pois a única janela do quarto mostrava extamente a vista do balão, imponente no meio do jardim.

Henry desfez suas malas, guardando seus pertences no baú, mas não parava de olhar para o balão. Aquela obra colorida, realmente chamava a atenção em meio ao cenário monocromático e triste da propriedade.

Mais tarde, Sophie e Liliana entraram no quarto para ver se o garoto já estava bem instalado.

- Você não esquece esse balão, não é mesmo? – perguntou Sophia.
- Não. Algo me diz que um dia voarei dentro dele. Só espero que esse dia não demore muito para chegar.
- Mas Henry, o vovô pediu para termos cuidado com o balão. – disse Liliana, preocupada.
- Não se preocupe. Eu cuidarei desse balão.

Ao anoitecer, Ludovico gritou pelos três netos, pois estava na hora do jantar. Ao descerem a velha escadaria, sentiram cheiro da comida que o velho preparára. Era uma espécie de sopa. Não muito apetitosa…

Henry viu aquilo em seu prato e realmente se arrependeu de ter ido passar as férias ali. Era uma sopa meio gosmenta e numa cor um tanto… Não poderei descrever de tão estranha que era.

Sophia tentava agradar seu avô, elogiando a sopa, enquanto Liliana simplesmente tentava comer.

- É bom gostarem disso, pois é isso que comeram nas próximas semanas de férias. – disse Ludovico, sem nem tirar os olhos do prato.
- É bom, vovô… – disse Sophie, tentanto elogiá-lo.

Após o jantar, os netos subiram até o quarto das meninas.

- Sophia, como você conseguiu comer aquilo? – perguntou Henry.
- Ah, meu irmão, você tem que aprender a ser mais discreto. Veja Liliana, ela não reclamou de nada.
- Só por que o vovô estava olhando… – disse a irmã caçula.

Ah, não importa. – disse Sophia. – Sabem de uma coisa? Acho que já está na hora de dormirmos. Aconteceu muita coisa hoje. Boa noite, irmãos.

Sophia foi para sua cama, Liliana também. Henry foi para seu quarto. Ao deitar-se, não conseguia dormir. Pensava, pensava e pensava tanto que seus olhos não se fechavam por mais de 2 minutos.

Levantou-se, foi para a janela, abriu as cortinas e lá estava o balão, perdido, no meio da noite escura.

- Ah… Um dia, eu e você voaremos por este céu e conheceremos muitos lugares novos…

Continua…

Sempre Nunca

Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
E assim sempre será.

Sem mais erros para cometer e corações para destruir.
Sem lágrimas para perder e câmeras digitais para sorrir.
Sem mais dinheiro para ver, sem mais frio para sentir.
Nunca mais verá uma fila de fast food gigante
Ou dividirá um guarda-chuva rosa,
Nem passará por uma situação preocupante
Como bem uma preciosa.

Para um corpo precipitado,
O outro estagnado
Vai passar.
A areia soprar.
Vamos voar.

Seus corações não são de metal, seus idiotas.

17.6.10

Tatuagem

Caminho com dificuldade, admito, e essa admição que me iluminou. Mãos estranhas me puxam, e meus passos percorrem um zigue-zague. Desvios que meu cérebro não entende e meus pés obedecem.
Então olhos fechados me observam, escuros me cegam, e posso sentir a luz fria soprando em meu rosto.
As mesmas mãos estranhas me sobem, puxando-me pelos pulsos vermelhos, vermelhos do sangue que conta uma história de maravilhas.
Me apego pois é quente e confortável, mas o gelo queima no abandono e meus lábios racham e se abrem no grito negro que rompe minhas bochechas e artérias sob o meu pescoço.
Mas quando penso que acabou, encontro um rosto conhecido, que mudou com um inozado sorriso. Conhecido no meu espelho passado que me mostrava o presente. O de estar viva.
Aí o estalo, e reconheço uma daquelas que me puxava, me queimando confortavelmente. Opaca e intensamente me segando para mais uma vez tatear a tatuagem de sua pele repuxada e ruborizada.

6.6.10

A Volta ao Mundo em Atlas, parte 02

Umas semanas após receber a carta de Beatriz, Ludovica se preparava para receber seus três netos. Na casa não havia empregado algum, por isso o velho teve de arrumar tudo sozinho, o que o irritara bastante, já que queria construir seu balão.

Finalmente a três crianças chegaram. Vieram com a ajuda de um carroceiro que morava por ali perto. Eram eles Sophia, de 16, Henry, de 13, e Liliana, de 10 anos. Eles vinham observando a beleza da paisagem. Uma grande floresta cercava a propriedade de Ludovico, dando um ar misterioso e fantástico ao lugar.

- Sophia, já estamos chegando? – perguntou “Lili”.
- Acho que sim. Já faz dez anos que não venho aqui… Mas sabe de uma coisa? Acho que nada mudou.

O carroceiro parou diante dos portões da propriedade, enferrujados e com plantas combrindo-o.

- É aqui que ficam. Boa sorte com o velho Ludovico! – disse o carroceiro, num tom de preocupação. Fez meia volta com o cavalo e voltou pelo mesmo caminho.
- É aqui? Não lembro de nada. – disse Henry, que visitára a casa pela última vez aos 3 anos.
- Vamos entrando? – disse Sophia, empurrando um dos portões, que rangia muito, apesar de não se mexer.

As três crinças ficaram paradas diante do portão, sem ter muito o que fazer. Quando Henry teve uma idéia.

- Já sei! Olhem como aquela parte do muro é baixa! Vamos pular!
- Calma Henry. Lembre-se que mamãe pediu para você não aprontar aqui na casa do nosso avô. – disse Sophia.
- Você pensa que manda em mim, mas não é minha mãe! – reclamou Henry, indo na direção do muro.
- Henry! Pare com isso ou o vovô não vai gostar! – disse Liliana.
- Ele já não gosta de nós, esqueceu? – respondeu o garoto, já sobre o muro.

Restaram às suas duas irmãs segui-lo, entrando na propriedade da pior maneira.

- Isso é invasão. Vamos voltar e esperar no portão. – disse Sophie.
- É a casa do nosso avô. Estamos em família! – disse Henry, que já saiu correndo pelo jardim.
- Me espere! – disse Liliana, já saindo correndo atrás de seu irmão.

Sophie ficou para traz, carregando as sacolas e malas dos três, andando calmamente.

Os dois mais novos correram até cansar, quando Lili se deparou com algo muito grande que havia atráz da casa – o balão.

- Henry, olhe isso! – disse ela, apontando para a “coisa” colorida.
- Sophie, venha ver isso! – disse Henry, chamando sua irmã.

Sophie foi até onde seus irmãos a chamavam, e também levou um susto com a figura que ali estava. O balão, grande, redondo e colorido, constratava com tudo ao seu redor – portões enferrujados, jardim mal cuidado e uma casa velha e cinzenta.

- Será que isso é do vovô? – perguntou Lili.
- O que vocês querem aqui, seus moleques? – disse uma voz rouca e irritada.

Continua...

1.5.10

Merecimento

Aquele era um homem muito escroto e feio. Todo quase fim de tarde, quando nós dividimos o dia em dois turnos e achavamos que ainda era de dia, mas na verdade faltava só umas duas horas para anoitecer e nesse horário aquele homem ia até um bar cumprimentar a clientela tradicional, não dizendo que na verdade ele queria uma cerveja de "cortesia" dos amigos e da casa. E a casa também é amiga, ora essa.
Ninguém precisava dizer - apesar de aparecer uma ou outra piada sobre - que ele ia ali só para beber sem pagar. Talvez o tamanho da barriga dele pudesse se equivaler à sua dívida, fora as calorias que ele gastava para reclamar e coçar o saco.
Se alguém perguntar para aquele homem se ele tinha sonhos, ele diria que sim. Os mesmos sonhos que reclamava quando seus filhos tinham ou quando qualquer inseto tinha, então quando contava os deles, vinha piadas. Merecidas? Talvez. Ele queria algum cabelo e um quintal para cochilar, sem muito verde, pois cortar grama não era com ele. Não sonhava muito alto, assim ignorava a existência de um jardineiro e empregados, ignorava os serviços feitos por alguém para ele. Talvez também fosse incapaz de notar que a "gentileza" dos amigos não tinha aspas, talvez até ignorasse a sua felicidade de vez em quando, mas ele não acreditava nessa felicidade também. Ela devia ser extrema e tão imaginária, de contos de fadas...
Ele era muito escroto e dependente. Só era simpático quando algo lhe era conveniente e suas piadas quando passava a conta nunca tinham graça. Era um idiota de alma e não aceitava nenhum crítica sobre ele, pois ao contrário do que pode parecer, ele se enxergava muito bem. E nem gostava de conseguir isso e ainda ser idiota. Era só bom em pedir coisas para os outros, para que eles se tornassem pessoas amadas, dedicadas, bonitas, inteligentes e lhe pagassem uma cerveja ou que pelo mesmo não desistissem disso. Talvez ele fosse assim infeliz por alguém o desejar a mesma coisa, mas acabou por não conseguir. Só talvez. Afinal, talvez fossem todos que desejassem isso.

Todo dia ele ia beber numa roda de amigos e estranhos e não precisava ser bonito, inteligente, educado, divertido, trabalhador, criativo, crente ou sei lá para gostar daqueles momentos. Ele era burro e muito feliz. E escroto.

29.4.10

The last goodbye

I've been learning with my mistakes
I guess it's time to forget
the lies are always the same
this is so sad, but I don't love you yet

no more pain, no more tears
there's no doubt you're in my heart now
I'm just a creature that loves
my eyes show what I feel, I don't need to say nothing else

Chorus:
Please honey, always be mine
no matter what happens to me
dreaming in my room I can hear you cry
now can you hear me? this is my last goodbye

slowly the hours and days go by
and once again I see myself without you
I need you more than ever
the memories are real, and make me happy

nothing else has meaning to me
you're my only reason to keep breathing
I just wanted you to know
know how much I miss you

Estarei Te Amando

Estamos indo para casa
Caminhamos muito
E enquanto isso
Eu penso em seu sorriso
Só por um instante

Seguimos firmes
Por todos esses anos
Mas derrepente
Seu sorriso desapareceu
Transpareceu o medo

E agora estamos aqui, sob a chuva
Você se preocupa se deixará uma marca
Mas não me importa
Porque eu vou dizer

Estrelas podem cair do céu
Ou lágrimas dos seus olhos
Mas estarei te amando
Quando seu coração estiver no escuro
Serei sua pequena faísca
Porque estarei te amando

Eu me pergunto
Porque é desse jeito
Que as nossas vidas seguem
Todo dia igual
Eu não entendo

Ainda estamos aqui, mas a chuva parou
Você se preocupa se ainda somos os mesmos
Eu acho que sim
Mas agora é hora de esquecer

Nós chegamos aqui
E não há mais o que mostrar
Poque você sabe
Que estarei te amando.

21.4.10

Utopia

Não sou operante, e não obstante.
Revelo-me intrigante
Instigo o acaso, procuro o desafeto.
Aguardando pelo julgamento dos seres
Mentes improdutivas em mundo cibernético
Contra minha opressão analógica
E a pressão é lógica
Os minutos passam, reflexo imediato.
Bomba relógio, conexão padrão.
Subitamente surge a resposta
É indireta e funcional
A biogenética controla a respiração
Interfere em um espaço tempo
Onde o oculto se revela
Dentro de um túnel
Sem começo, sem fim.
Instala-se a deformidade
Em minha cabeça, busco respostas.
Faço conexões, atravesso a ponte.
Que brilha com a noite
Caminhamos sem destino
Ao retoque final dos que não optaram pela guerra
E tão pouco fui misericordioso para com aqueles que alimentaram minha fé
Perplexado, ou indomado, o corpo vaga.
Por um espaço mal preenchido e sem luz
É salgado, talvez pálido, sem gosto.
Aquilo que não pôde ser visto nem compreendido
Pois são nossos desejos, nossos pensamentos.
Escoando por um rio negro, cuja bruma é cinzenta em tons.
Reflexos de experiências, talvez inexistentes.
Soa como um ruído, brando, agora um estrondo.
A ruptura de fragmentos que não se encaixam
Mas que se reconhecem na vasta imensidão
De incoerências da vida e do universo.


Ykaro Venâncio

10.4.10

Sorrir faz bem

O sorriso tem a nos ensinar deveras. Pense na última vez em que você sorriu..
Hoje pela manhã ao agradecer por poder estar mais um dia com as pessoas que ama?
Ou quem sabe ontem quando você recebeu um e-mail dizendo: '' Tudo bem? Nossa!! Quanto tempo..''
Talvez tenha sido semana passada depois de receber um chocolate..ou até mesmo revendo aquela foto perdida de quando você ainda sabia ser feliz.
O tempo nos mostra que nunca é tarde para se arrepender e pedir perdão. Nunca é tarde para experimentar aquele sorvete, que você sempre teve vontade mas nunca teve coragem por achar que podia não ser bom. De dizer que você não concorda e tem seu ponto de vista. O que acontece é que esquecemos que as oportunidades muitas vezes nos dão segundas chances, e que sim, ainda temos tempo.
Então, da próxima vez ao invés de pensar duas vezes antes de sorrir, sorria! Sem medo, sem anseio ou mesmo insegurança. Acredite que o dia de amanhã será melhor e que você pode ser o responsável por isso!

8.4.10

A Volta ao Mundo em Atlas, parte 01

Era uma vez um senhor chamado Ludovico, um velho viúvo solitário e rabujento. Sua única companhia eram as lembranças de seu passado. Sua família não era muito grande, e vivia distante dele. Realmente, Ludovico era uma pessoa de mal com o mundo.

Certa vez, arrumando algumas bugigangas antigas deixadas por sua falecida exposa, o velho encontrou um livro, ainda embrulhado em papel de presente, onde estava escrito: “De Estela, para Ludovico”. Estela era o nome de sua mulher, e aquele era um presente que ela iria dar-lhe na época em que adoeceu, antes de falecer.

Ludovico abriu o embrulho e teve o livro em suas mãos. Não era muito novo e muito menos com cheiro de recém comprado. Suas páginas já apresentavam um tom amarelado. Ludovico soprou a capa, onde se lia o nome da obra: “Seja Feliz! Conheça o Mundo em um Balão!”.

Desde jovem Ludovico adorava balonismo, a prática de se voar em grandiosos e coloridos balões. Estela iria dar-lhe um livro que ensinaria a construir um grande balão para uma grande viagem.

Isso realmente entusiasmou o velho, que reuniu materiais e começou a contruir seu engenhoso balão, seguindo os passos do livro. Era começo do verão, e como sua casa era grande e o terreno, espaçoso e longe da cidade, Ludovico teve toda a tranquilidade do mundo para construir. Até certo ponto.

Certo dia, sua filha Beatriz, lhe manda uma carta, contando que seus três filhos estão para chegar em sua propriedade, para passarem as férias. E que como ele era seu pai e avô das crianças, entenderia.

Ludovico relamente não gostou muito da idéia de receber seus netos, talvez por que a última vez que os viu, o mais novo dos três era um bebê. Além disso, eles poderiam arruinar seus planos de uma grande viajem de balão.

Continua...

7.4.10

O Instante Qualquer



Não é incoerência, talvez subsistência.
E não obstante meu corpo foge
De irrealidades, mas na cidade me movo.
E corro, observo, sinto
Aquelas palavras atravessaram o quarto
Um segundo, fugaz.
A pupila dilata
E retrata o que não foi visto
Ate aquilo que não foi dito
Reação em cadeia
Cérebro paralisa fuga alheia.
Interferência na freqüência
O que vale é a experiência
Símbolo da existência.

2.4.10

# 07 - Assalto

“Silas... eu soube que três de teus clientes faleceram...”

“Sim... eles...”

Um estrondo de porta sendo arrombada com um chute frontal interrompeu o início de diálogo entre o Contador Silas e o Detetive Ney. Os dois voltaram-se rapidamente para a porta e viram um grande pé calçando um coturno atravessar a porta arruinada pelos cupins. Um arrombamento mal sucedido, pois o objetivo do arrombamento em si é derrubar a porta, e não atravessá-la e prender o pé nela, entre as lascas de madeira.

Ney, com toda a sua experiência em casos desse tipo, pegou um pequeno banco de madeira e sentou-se ao lado do pé. As lascas da porta estavam produzindo cortes a cada tentativa do arrombador de puxar de volta o pé invasor. O Detetive Smith tirou o coturno e a meia do pé e ouviu o invasor falar “isso tá me machucando, me ajuda, John”. Ney segurou o pé com a mão esquerda e começou...

“Por mil demônios, o que o senhor está fazendo?” perguntou Silas, com espanto no rosto.

“Cócegas”.

Olhou em direção à porta e perguntou em voz alta para o “pé” e John:

“Eu posso fazer isso à tarde toda... a não ser que cooperem. Quem são vocês e o que querem?”

“Pizza”, respondeu uma voz feminina trêmula (seria John?), enquanto o dono do pé gargalhava em pânico.

“Pizza? Mas que droga de resposta. Faça sentido, por favor...”

A voz feminina trêmula gaguejou um popouco cocomo se catata... catatatassse as palavras e disse, agora com uma quase convicção:

“Somos entregadores de pizza... é uma promoção... caso o cliente não morra de susto nós... droga! Eu sou a Dolores! O teu contador é o assassino e nós viemos te proteger, você é o quarto cliente dele, ele está matando dos clientes mais antigos para os mais atuais e você é o quarto, droga! Abre essa merda de porta!


***


P.S.: A frase "Faça sentido, por favor" foi dita, originalmente, pela Bianca. Putz, eu tinha que usá-la algum dia, é genial...

1.4.10

Passado Presente e Futuro

Ontem mesmo eu estava tão contente
Tinha sido um dia tão divertido!
E hoje, nada mais faz sentido
Tudo mudou tão rapidamente...

Vou me lembrando do que aconteceu
Pequenos flashes de minha memória
Me mostram os momentos de glória
Mas de repente tudo desapareceu...

O passado foi legal
O presente é razoável
O futuro será inimaginável
Espero por um sinal...

Parece que foi ontem, sim...
Mas já foi há alguns anos...
Nem me lembro mais daqueles planos
Que eu arquitetava no meu jardim

Mas por quê o tempo não para?
Já não sei mais no que devo acreditar
Só queria pegar um espelho agora e olhar
Qual o sentimento que está na minha cara...

O passado foi chocante
O presente é distorcido
O futuro está escurecido
Acho que sou discrepante

A semana inteira ficava triste...
Só queria gritar o mais alto que pudesse
Para me livrar de todo o estresse
Mas nem sei se isso existe

O que é real e o que não é
Até hoje não consigo distinguir...
Mesmo assim, vou continuar a refletir
Mas o presente ainda pega no meu pé

O passado me deixa dúvidas
O presente me persegue
O futuro aos poucos se ergue
Sinto minhas olheiras úmidas...

Eu penso por horas, sem uma pausa
Mas não vejo onde foi que eu errei...
Depois de muito tempo, eu reparei
Talvez não fosse por minha causa

As outras pessoas mudam a cada segundo
Será que sou só eu que não quero mudar?
Será que é errado eu querer continuar
A ser a pessoa que sempre fui nesse mundo?

O passado foi esquisito
O presente está me consumindo
Mas o futuro será lindo
E é nisso que eu acredito

Seguir em frente
É só o que se pode fazer
Não vou ligar para o que acontecer
Vou apenas abrir a minha mente

Do Que Não Foi Visto

Reflito, logo e penso
Existo, evito e me esquivo nesse jogo ambíguo
Não existe paralelo no paradoxo
Tudo limpo, nada tóxico
Saio complementando
Devaneios, sim, vivo ensaiando-os
E canto, cantigas de paixão
Esquecido entre arbustos matinais
Congelados
Conspiro, ajudo, fico em luto
Revolução chega, não me iludo
É de fato onírico
Fugaz, extremamente exagerado
Um tanto quanto contemplado
Exilado...

A Última Dança

Era uma quente noite de verão, o céu escuro, apenas com a calma luz da lua cheia. As vozes altas e a música clássica pairavam pelo ar.

Estavam lá, em meio à noite e o perfume de jasmim, ele, hesitante, e mesmo assim completamente rendido, e ela, perdida no amor que reluzia sob o luar. Ele era seu príncipe, e ela, seu anjo mais puro.

Era uma visão celeste, vê-los em cada passo juntos, como o mais perfeito ballet. Enchiam os olhos de lágrimas que caíam como um rio em seus corações. Vivos. Apaixonados.

Era simplesmente o momento mais feliz de suas vidas, e seria eterno enquanto a música não parasse.

Poder Oculto

Eu quero encontrar meu sonho
Quero que se realize
Exatamente como cantar
Ou como milagres,
Sem nenhuma dúvida
É quase surpreendente!

Eu sou um ser nesse mundo
Eu sou uma sonhadora...
Com poderes ocultos...
Mas como uma estrela,
Mesmo uma pequena luz
Quero ser mais forte algum dia.

Eu quero lhe dizer
Quero gritar
Que o que se esconde às nossas costas
E o que se esconde à nossa frente
Não é nada comparado
Ao que se esconde dentro de nós!

Em Minha Casa

Formou-se uma colônia na Babilônia
Em tempos antigos o povo se une
Eles se armam e se amam com afeto
Um corpo na vala
A bala no feto
E, contudo estala, como um suicídio
Um corpo caído
E eu, desfilo, e canto
Protegido pelo manto
É como se fosse um presságio
Meu corpo perdido
No sideral
Espaço, frenético, irreal
Bilateral, bidimensional
Eu reflito e grito,
Gero o atrito, aflito, esquecido
De súbito, a conexão gera pressão
O mundo continua, máquina paralítica
Turbilhão em minhas mãos
Obsoleto, discreto, indireto
Sim, desta vez o ângulo é reto...

31.3.10

Esquilo

Felicidade, vamos caçá-la
Bem vindo à floresta
Mire sua arma
Sorte é o que te resta

Se n tem estômago fique com fome
Pra ver o que acontece
Ele te come
Apodrece

O que te salva é sentir
O que te condena é saber
Quem sabe dormindo
Saia desse sonho
E acordando tenha a caça aos seus pés
(uma frase eu usei da música Wellcome to the jungle - Guns n' Roses)

26.3.10

Palavras Invariáveis

Estamos sonhando
Olhando para as estrelas eu vejo
Tudo o que eu quero ser
Hoje é o meu dia

Em meu sonhos nada mudou
Não me fazem esquecer de onde eu vim
Bom é olhar para a realidade
Sempre serei o que eu sou

Uma folha branca em um livro aberto
Vou colorir com o que eu sonhar
Minha caneta não perde a cor

Como palavras invariáveis
Então escrevo mais e mais e ainda mais
E coleciono meus sonhos

John Espigado do Amor Pequeno

"John..."
"Eu entendo, entendo, meu doce. Agora, durma."
E ela é atendida de pré-imediato. Mesmo com as canelas no chão feio e o resto do corpo meio-caído nos braços da falante, a respiração do rapaz já era pesada. Ele era pesado em si também, principalmente em suas culpas.
"Você sempre faz os mesmos cenários, as mesmas roupas... e, ah, que não é por odiar elas que são feias, tá, querido? Mas eu não gosto de como você sempre chega de batidas, súplicas, machucados, olhos inchados, que por mais que me devessem isso e a outros também devia, esses inchados não são por lágrimas."
"Você sempre volta."
A mulher mergulha os pés em baldes merecidos de água morna, trêmula. Apesar disso, devia ser forte como toda suas palavras eram bem formuladas e harmoniosas.
Ela massageia os calos e as bolhas, que se aliviavam instantaneamente. Ela possui uma voz rouca, mas estupidamente linda. Homogênea e pura. Podemos ver a alma dela pela voz.
"Estou cansada, com medo, fome... doida para morrer, mas acumulei muita coisa na pia e aqueles fungos do orfanato..." Ela deixa os pensamentos terminaram de transcreverem os deveres, que não são poucos.
"Imagino qual refeição John andava fazendo e o que ele quer amanhã..." Ela deixa seus devaneios mergulharem nos dos outros com carinho.

"Eu acho que é isso, mãe."
Ela gosta de se esquecer nos outros. É o que ela sempre quer, esquecer os problemas e esses por vez: que coincidência e ironia, são os outros.
John caminha a passos preguiçosos e pequenos até o cômodo, mesmo que suas pernas e corpo inteiro sejam espigados. Ele olha ela com um carinho - que sempre possui certa vergonha de mostrar e até agora a sente. Ela também olha ele, de olhos fechados. Ela sente seu calor, de olhos fechados. A bacia cheia d'água já gelada. A mãe quente. A toalha macia. John seca os pés da moça com leveza. A leva nos braços com atenção. A deita na cama.
John vai até a rua, fuma um, dois, três... Pensa, preocupado.
John sempre foi um péssima rapaz, até um péssimo homem foi! Por este último motivo voltara para casa. Ele nunca foi muito aceito, principalmente pelos vizinhos, os que decidiram odiar ele por achar que a mulher deitada com pés ferrados e encontrada em lindos sonhos... decidiram que iriam odiar ele por ela, que ela não podia odiar seu filho. Eis o engano! Primeiro: que ela não o ama. Segundo: por ser sua mãe.

"Mesmo assim fechado, você já aprontava muito desde cedo." Aquela mãe agora alisada os fios dourados dele com carinho.
A cabeça dele pesava, mas não era assim que aparentava no colo gentil da mulher.
Os inchados, fechados e calmos olhos se fecham e adormecem com o filho. Afinal, eles sempre se amavam assim, de olhos fechados.

19.3.10

CAP. 01 O AVISO

Nilo, como era chamado, corria por entre as outras crianças da aldeia, haviam acabado de iniciar um ritual local, espantado por um dos xamãs, Nilo acaba correndo para fora da aldeia, e intrigado resolve se introduzir na floresta à sua frente.
Logo mais a frente, Nilo percebeu que o canto dos xamãs ia parecendo cada vez mais distante, não se importando muito com o fato e deslumbrado com a exuberância da natureza em volta, o menino continua sua caminhada. Nilo não entendia como as coisas ali se formavam, e nem o porquê disso, mas sabia que tudo ali, os processos evolutivos, a obscuridade da mata, a variedade de vida, tudo, e mais um pouco, sabia ele, que era essencial para a sobrevivência de seu povo.
Chegando em um terreno argiloso e bem úmido, percebeu alguns corpos espalhados no solo, sob cobertos pela lama, ficou um pouco assustado, eram banhados com braceletes e tintas de sua aldeia, os Maratuca, logo, após concluir que não restava vida ali, Nilo se lança para observar o que acontecia logo à frente, e conclui:

- Eles vieram com seus monstros acabar com Nilo, mas Nilo não pode deixar tristeza chegar até mestre, Nilo não quer visitar xamãs, Nilo não quer que mestre vá, Nilo quer ver Grande Morada forte, imperando, não, Nilo não quer ver Grande Morada sobre fogo. Nilo não pode.

Intuitivamente, ou não, percebeu que estava sendo observado. Para ele era um monstro, encapuzado por vestes estranhas e apocalípticas, começou a correr. Ouviram-se tiros, estrondos entre as árvores.
- É a morte - pensou Nilo.
Era como se estivessem se escondendo, e o menino encontrou-os, corriam freneticamente, mas pernas ágeis tinha Nilo, seu monstro encapuzado era impetuoso, não desistia de sua sede, frenético era ele em sua caçada. Nilo consegue se esconder, o monstro(em tempos antigos homosapiens) desaparece, perdido, caçando-o. Começa a correr, suas pernas são pequenas, alcança a aldeia.
Assustado, chama por seu pai, avisa o fato. Seu pai preocupado vê uma fumaça sobre a montanha e logo, chega um súdito, alarmado:
- Eles invadiram a ilha! Queimavam a primeira aldeia, e avançam com velocidade, nossas defesas estão se esgotando!
Enu Kassan, pai de Nilo, como era chamado, olha para os céus, era como se estivesse pressagiando um fim, o resto da aldeia ainda não sabia do acontecido...
- Convoque os guerreiros ao meu encontro!

Os olhos de Kassan temiam o pior, o perigo era eminente.

CONTINUA...

14.3.10

Atriz

É uma peça
e você não é o diretor
não importa o que aconteça
não vão te aliviar a dor

Se você é decente
ou nem mesmo por você
quem sabe por seus pais
se você não mente
não importa mais

Pois já escreveram
que ato você tem que sorrir
já te meteram
te forçaram a ter que sentir

Mas não sei também
não conheco o autor
não sinto ninguém, ou amor
nem uma página
apenas dor

Antes, Mel

Capítulo 01 de Alomorfia Ursina
Antes, Mel

Moravam cinco ursos num chalé pacato numa floresta pacata em um dia onde tudo se destruiria por completo junto da placidez da localidade. Foi terrível, terrivelmente terrível, mas, perdão, foquemos a família de Ursídeos antes do acidente incidente.
Haviam 3 irmãos, todos meninos sadios, apesar do sedentarismo anormal para um padrão de urso. Eram trigêmeos e ainda assim discutiam ocasionalmente sobre quem era o mais velho e lamberia, com direito consentido pelos pais, o resto do pote de mel. Era uma família normal, isso para o padrão de um humano, mas nessa história e só nela, também é para o padrão de um urso.
E haviam dois pais, é claro. Conservadores, divorciados e pardos. Eles normalmente eram liberais de má vontade. Procuravam espionar e pressionar os filhos sem apelar para proibições verbais e diretas. Os dois possuíam um instinto paternal quase possessivo e doentio, mas deixando todo o ar ainda permanecer calmo, sem alarme ou violência fora do perímetro audível do chalé.
Viviam rodeados de algum problema, catalizado pela própria família, mas aqueles ursos pacatos da floresta viviam felizes em voltados de um amor misterioso que foi formado antes mesmo daqueles cinco existirem. Gerações e gerações anteriores e posteriores em mutação. A atual também.
Apesar de serem animais contentes, nem tão saltitantes e um tanto problemáticos com uma porcentagem maior de felicidade que o oposto, isso não afetaria de modo algum a formação de um problema muito mais impactante que este amor formado desde suas gerações mais antigas.
Um dia...

13.3.10

Cap. 02. DEsConhEço!

Agora, imagine a seguinte situação: Qual seria a sua reação ao olhar para si mesmo através do espelho e ver outra pessoa?? Concerteza sua primeira impressão poderia ser uma experiencia paranormal ou você, concerteza, teria perdido o juízo ou, até mesmo, estar com algum problema de visão. Não seria o mesmo caso de nossa protagonista "Taní". Troca de corpos???Troca de mentes???Tantos pensamentos passaram por sua cabeça enquanto olhava fixamente para aquela que parecia ser ela mesma. Grandes olhos negros-violetas de cílios fartos se completavam com o cabelo longo com franja no rosto redondo com lábios pequenos e com a pele tão morena quanto a de Ipu.
- Irion, o que está acontecendo??Do que diabos você está falando??- O pensamento de Taní foi quebrado com o tom levemente alterado da fala e Ipu.
- Tenha respeito comigo, moleque! Mal ganhou as marcas do "ser" e já pensa que é um homem?- Irion tentou se alcamar, sentando emcima de uma pedra encostada - Pelo que eu me lembro - Irion colocou um pequeno cachimbo na boca - Eu disse a você para não ter tanta esperança quando teve aquela visão. Disse que as pessoas que o deus sol trás de volta as vezes não vontam a ser as mesmas. Nem se quer se lembram de quem foram um dia ou se voltaram a se lembrar. Lembro-me de ter lhe dito que também pode ocorrer a troca de astrais. Talvez isso explique por que eu estou tão surpreso quato ela.
- Não estou entendendo! Você disse que as chances eram mínimas de qualquer umas dessas coisas ocorrer- Podem imaginar tamanha confusão amigos?
- É verdade, as vezes sinto que o deus Sol adora brincar conosco com essas lições. Talvez eu nunca vá entender isso. - Irion deu uma tragada bem forte, que nem ele calculou -Cof, Cof, Cof. - Retomando o fôlego - Escute Ipu, eu só fiz isso por que não reconheço esse astral que está no corpo de Taní. Eu não quero acreditar que o astral dela está trocado por outro que seja de más intenções. Já passou por sua cabeça que seja um astral maligno como aquele que matou seu irmão?. Eu penso no seu bem.
Taní observava Ipu e Irion de longe, ainda segurando a bendita tigelinha com água. Ela se afastou um pouco mais quando percebeu que a discursão estava aumentando consideravelmente. Ipu percebeu a reação dela e logo terminou a conversa:
- Ela é a Taní que eu conheço! E se que logo ela vai se lembrar! Ela não é um astral maligno como você pensa! eu estarei do lado dela esperando como um bom Menama que sou!- Taní ficou envergonhada por ele a ter defendido.Ipu pegou na mão de Taní e saiu apressadamente com ela floresta adentro. Já estava anoitecendo.

--fim--

obs: To fazendo cursinho. vai demorar bastante para concluir a estória =/

Os Olhos Azuis [ilustração]

Os Olhos Azuis


"Sou Valdete. Faço o que você quiser", dizia seu cartão de visitas. Sentada na calçada, usando uma mini saia, com uma meia rasgada por baixo, um decote provocante e segurando uma bolsa vermelha, Valdete olhava aflitamente para o relógio. Para cada um que passava, lançava um olhar de caça e ao mesmo tempo caçadora. Esperava um cliente que ali havia marcado um horário, mas ele não aparecia.

Um carro passa, pára. A janela se abre. Valdete se levanta e vai até o veículo. Fala qualquer coisa com o cliente e embarca no lado do caroneiro. O carro parte, rumo a um prédio luxuoso, todo branco, de janelas esverdeadas e portas douradas. Valdete e seu cliente sobem até um quarto, ele tranca a porta e tudo começa. A cama é desfeita e se transforma num verdadeiro anfiteatro romano, palco de lutas, tragédias, comédias e sacrifícios.

Ao amanhecer, Valdete levanta cedo, sentindo-se atropelada por um caminhão. Ele havia lhe batido, espancado, até chicoteada foi. Mas todos os hematomas foram cobertos pela roupa. Pega seu pagamento e deixa o prédio rapidamente. Agora, com o dinheiro na mão, sabia exatamente o que fazer com ele.

Andava pelas ruas, ainda vazias, a passos apreçados. Infelizmente, os trajes que vestia eram os mesmos da noite anterior. Por isso, alguns rapazes que a viam, xingavam com as mais fétidas palavras. Mas Valdete não se abalava. Nem ao menos retardava seu caminhar.

Avistou uma loja de bijuterias, que já estava aberta, no entanto, parecia já estar fechando. Valdete correu e conseguiu entrar no estabelecimento a tempo. Foi até o balcão e pediu para ver alguns produtos. A vendedora, meio de má vontade, exibe colares, pulseiras, anéis. Mas o que mais lhe chama a atenção foi um par de brincos prateados. Valdete pergunta o preço, tira o seu pagamento da bolsa e entrega à vendedora. Dá meia volta e deixa a loja, que fecha em seguida.

Ela olha mais uma vez para o relógio, mete a caixa dos brincos na bolsa e continua andando, até chegar perto dumas casas humildes. Aproxima-se de uma, mal cuidada, abre o portão enferrujado e entra. Na sala, sentada numa cadeira de balanço, vê-se uma senhora, vestida com roupas muito antigas e desgastadas. Ela não fala, mal pisca os olhos e muito menos se mexe. Seu único movimento vem de suas mãos trêmulas.

Valdete a vê, beija-lhe a testa, acariciando seus cabelos brancos, e de dentro da bolsa, tira uma caixinha. Abrindo, revela o par de brincos prateados. A senhora mostra um sorriso muito fraco, mas sua verdadeira emoção se exibe em seus olhos intensamente azuis, banhados de lágrimas. Valdete coloca os brincos na orelha da senhora e a abraça. Era o segundo domingo do mês de maio.

12.3.10

Passagem do Ego

Por Ykaro Venâncio


Hoje somos traduzidos em palavras. As palavras não querem dizer nada. Servem só para formar uma verdade comum a todos, que afinal, não é de ninguem.
Caminhamos depressa, não há tempo a perder. Também tenho meu preço, mas ninguém conseguirá me comprar, todo o dinheiro do mundo não basta, hei de escapar como água entre os dedos do destino, hei de fluir como um rio, dia e noite, nem que tenha que enfrentar uma noite de insônia, porque esta é a cama estreita que conduz ao reino dos céus.
É como se o destino se mostrasse inexistente a cada fim de tarde, e nós, alimentamos a esperança de ter sempre um sol nascente, mesmo que isso gere medo do desconhecido, daquilo que não tem começo e tão pouco fim.
Vivemos segundo nossas emoções do momento, procurando localizar, descobrir, formular uma equação, ou uma constante, e poder dizer: isto sou eu.

De

Dedos úmidos, suados, macios, que embora sejam de um morto, demonstravam um toque dourado muito bonito e calmo, embora mais fraco agora, como se ele houvesse morrido com um sorriso, impermeabilizando aquele tom de pele vivaz.
Num gesto lento e emotivo, até mesmo hipnótico de cenas bonitas e finais dos filmes, posicionei-me ao lado do corpo de uma forma que ao levantar a mão movimente-se o mínimo que me permitiria movimentar o resto do braço. Jamais permitiria que eu ou alguém quebrasse aquele braço, por mais ciente que minha mente lógica estivesse de que este braço não iria se quebrar com minha ação simples e que eu mal havia passado por momento pior, mais indesculpável, comum, duro, atroz e principalmente, inevitável, que já havia vivenciado e desejado que não existisse tempo, antes improvissado para mim por forças superiores e seletivas, para que pudesse vivenciar. Uma sensação que me faz ansiar pela morte e vida da bendita e maldita cor rubra. Que ela nunca apareça, mas que ela ainda volte de onde nunca devia ter se espalhado. Meu desejo, eis lhe conto, é a cor rubra. E meu temor, é a ver.
"Tão..." incompletei num sussurro, não esperando alguma continuação minha, nem mais algo.
Beijei parcialmente os dedos anelar e médio, separei-me um pouco, ainda perto o suficiente para sentir o perfume daquele pulso afrente e ir aniquilá-lo com meu bafo fétido. Morno. O dedo sendo uma extremidade do corpo... num mero raciocínio, a esperança volta. Fina e frágil, mas volta viva.
Consultei o pulso, sem esperar e já esperando que fosse tarde demais.

8.3.10

Alimento

Peixes Frescos
Assados
Temperados
São gostosos.
“Se te pego”
Diz o tubarão.

No bar
O Bar
Naquele bar
Humanos são servidos
Em seu próprio molho especial.
“Eu gosto da pele”
Diz o tubarão.

E o peixe presunçoso
Pelos olhares recebidos
Pede uma
Pede duas taças
Pede três taças de leite.
“E que leite!”
Diz o tubarão.

Um dia alguns humanos,
Oito humanos...
Fugiram.
E voltaram.
“Sou vegetariano”
Diz o tubarão.

7.3.10

O Sonho

Estamos todos juntos
Inúmeras relações
Você conquista a todos
Que tal chamar um banda?

Tudo vira um lindo jardim
É o seu casamento
O dia mais feliz para suas famílias
Então corra

Fuja em um cavalo
De um astro de cinema
Atravesse o oceano
Como quem atravessa a rua

Todos estarão te esperando lá
Até que alguem te derruba
E leva seu amado
Mas onde estão os bolinhos de morango?

Então você percebe
Que tudo foi um sonho.

Lugar Ameno

Suspiros
Puros suspiros
Fumaças de cigarro
Fora dos lábios
Diga que meus dedos são macios

O som do choque, me toque
Há corte?
O mesmo de sempre?
Diga que consegue ouvir meus batimentos disrítmicos
Antes do fim não existir
No fim do túnel
O fim do túnel

A vida fora da terra
Fora de mim
Não a vida fora dos meu perímetro
Diga que hoje vai ser lindo
Ordene as lágrimas do valete

Toda tinta do meu cabelo não combina mais
A essência das bolhas de sabão
Diga que não
Tenha medo das pontas dos meus dedos
A amenidade do toque
Sob a expectativa do toque, me sopre

6.3.10

Estranhos

Para Bianca...

Sempre te vejo em meus sonhos
É a única forma que eu vejo
Rezo para que nunca
Esse sonho desapareça
Acho que preciso de você

Faço de conta que estais aqui
O que eu fiz?
Devo ter feito chover
Por favor me perdoe
Você parece ter superado rápido

Toda vez que tento voar
Com minhas asas quebradas
Minha fraqueza te causa dor
Mas você não se importa
Me sinto tão pequena

Venha, me perceba
E pegue minha mão
Por que continuar sem mim?
Porque nós somos estranhos
Mas meu amor ainda está aqui.

s/t

5.3.10

Dance

Me prometa que você dará ao destino
Uma chance de lutar
Só assim seremos livres
Livres para sermos quem decidirmos ser
Imagine tudo o que poderíamos fazer

Nunca escolha o caminho mais fácil
Porque não há garantia
De que ele realmente seja assim
E com o passar do tempo
Tudo vai ficando mais claro

Viver talvez signifique se arriscar
Mas vale a pena arriscar-se
Amar talvez seja um erro
Mas vale a pena cometê-lo
Então reconsidere

O tempo é uma roda
Em constante movimento
Sempre nos levando junto,
Quem não quer olhar para trás em seus anos
E imaginar para onde esses anos se foram?

Nós fazemos o nosso destino
Há poder em todas as nossas escolhas
Então quando você tiver que escolher
Entre sentar ou dançar
Dance

Respiração

A máscara contra sua pele
impede quaisquer tipos de gás
Mas a poção borbulhante em alta temperatura
nem poderia ser considerada exceção?
Para você
Só para você
Por você

A poção, além de especial, é única
Somente pode ser formada uma por humano
Uma
E ninguém vende
Ninguém compra
Ninguém consegue
Todos querem poder
Poder
Poder ou Amor

Se eu pudesse comprar Amor
Seu amor
Só seu amor
Por mim
Eu compraria
Eu compraria sabendo da falsificação
Eu compraria sabendo que a pirataria machucaria
Machucaria meu corpo
Seu corpo
E transmutaria meu sangue em sólido
O que iria fluir mesmo?

E agora sussurrarei um segredo
perto do ouvido
perto da máscara
e do coração
De você
Por você
Que cicatrizes podem ser curadas
sem marcas anteriores
se tornando posteriores
Que pirataria pode enganar além do original
pode enganar e ser real
E que
sempre
humanos formam uma poção de puro veneno passivo
e lascivo
Ele cura a alma
Por todos
Formada por todos
Somos compatíveis?
Inevitavelmente compatíveis

post scriptum: Para a Laura.

Esperando o Tempo

Para Laura...

Eu vejo o amor ao meu redor
Mas ele não chega em mim
Meu coração ferido não o aguenta
Há um buraco em meu peito
E o amor passa direto por ele, não fica
Cada segundo fica mais e mais vazio
Não choro, porque não tenho mais lágrimas
Não tenho mais nada
Meu corpo está seco, vazio
Uma casca partida e quebrada
Ja tentei juntar os pedaços muitas vezes
Mas dessa vez eles não conseguem se unir
Suas pontas afiadas
Me machucam sempre que tento reconstruí-lo
E se quebram ainda mais
Talvez o tempo melhore
Porque as pontas talvez se desgastem
Não machuquem tanto
Em um ponto que eu possa suportar
E colar todos os pedaços
Ficarão muitos defeitos
Mas é a unica coisa que poderei fazer
Então, só espero o tempo...

4.3.10

Meu corpo de Cobre

Corte
Não pode fazer nada
Não se importa
Na realidade até gosta
Aprecio a cena que para
Tapa na cara

Ter o poder,
a fama,
isso importa na hora de armar o circo
Mais sinto a pancada
A dor no pico
O sonho na cama
O sonho na lama

Sangra
Abre
o espaço pra tentar me sentir segura
Cobre
Meu corpo
meu corpo
de cobre
Que jaz
Morto

22.2.10

Sensação

Como caloura, vou começar com um pequeno.
Escrevi quando me apaixonei pelo teatro:

O corpo não é mais osso, é a sustentação do amor.
Não é mais nervos, é a ligação da alma com a arte.
Não é músculo, é a força da vontade de fazer o que ama.
E não é mais pele, é o puro arrepio do sentir dos sentidos.

Obrigada pelo convite!(vou me esforçar p atingir o nível do vrrt!)

21.2.10

# 06 - Máscaras

S.I.. “Que besteira”, pensou ele. Não sabia porque acabou usando esta identidade secreta mas, além disso, nunca entendera por que sentiu-se motivado a criar uma identidade secreta. Bem, ele queria ser um herói. O problema é que os heróis só existem nos quadrinhos, filmes, filmes de quadrinhos e nas propagandas de quinta categoria.

Ele nunca passou por nenhum evento traumático, a vida era fácil, sem conflitos; normal, em suma. Os pais perfeitos na infância, poucos amigos, mas leais. Depois o trabalho, tranquilo. A contabilidade sempre foi algo tranquilo para ele, era bom com números. Gostava de falar com os clientes. Era feliz.

Mas sentia-se vazio. A vida parecia não ter sentido, então ele decidia tomar alguma iniciativa, alguma atitude que pudesse melhorar o mundo. Mas nunca conseguia ter uma ideia, os primeiros passos morriam antes de encostar o calcanhar na trilha. Mas achava que apenas ajudar as pessoas em geral era pouco, ele queria registrar o seu nome na história, queria fazer algo grande. Salvar vidas, fazer justiça com as próprias mãos. Afinal, é a ânsia de todo ser humano. Ser lembrado.

Mas ele era muito fraco. Tentou musculação e karatê, mas ficou apenas um mês em ambos, não; 25 dias na musculação e 19 no karatê. Não era muito esperto também, mas enfim, ele não era muita coisa, em suma.

Seus pensamentos foram interrompidos pelas batidas na porta. Devia ser algum cliente cobrando relatórios atrasados, como sempre. Foi atender a porta, lentamente. Ao olhar pelo olho mágico, viu que era Rodney Smith. Sentiu seu peito inflar-se com alguma esperança... mas depois lembrou que Ney não sabia que ele era S. I.; simulou um rosto convidativo e surpreso, depois abriu a porta:

“Olá...”, disse Smith enquanto tentava lembrar o nome do contador.

“Silas, Sr. Ney. Tudo bem?”

Enquanto o Detetive Smith entrava no pequeno apartamento que servia de escritório e dormitório para Silas, três vultos esgueiravam-se no corredor.

Por uma fração de segundo, podia-se imaginar que um dos vultos trazia em sua mão direita uma faca de sobrevivência tamanho grande com uma afiadíssima lâmina em aço anodizado, parte superior com serra dentilhada e cabo anti-deslizante com protetor de mão vazado...

18.2.10

1 - A menina no trem

Através da janela embaçada do trem, uma menina vislumbrava vastos campos verdes. Ainda verdes. O verde, outrora quase um monumento do eterno, nos dias de hoje não passa de um estado transitório, quase um pré-cinza. Ela sabe que terá um futuro cinzento pela frente; no entanto, ao fechar seus olhos, lentamente assiste gotas vermelhas escorrendo sobre a escuridão de seus pensamentos, tal qual os pingos de chuva que escorrem pela janela de vidro, embaçada pelos seus suspiros condensados. Os sentimentos também se condensam. Às vezes, tornam-se tão sólidos que parecemos vestir máscaras.

Os humanos são muito suscetíveis aos próprios sentimentos. Tomemos a ira como exemplo. Quando encolerizado, o humano sente como se uma corrente elétrica circulasse por suas veias, percorrendo cada célula, o alimentando. Os olhos fixos, os batimentos cardíacos aceleram. Alguns gritam, outros simulam o silêncio da estática; outros, apenas sorriem. Mas não devíamos falar de eletricidade, não desta forma. Afinal, ela só será utilizada para alimentar os maquinários fabris daqui a uns dois séculos. Estamos na era do vapor, não o mesmo vapor que se condensa em gotículas de água nos vidros dos trens. Falo do vapor que se condensa em gotículas de sangue no ouro. Ouro de poucos, sangue de muitos, como sempre foi e sempre será.

A menina no trem chama-se Brigitte. Ela está viajando com apenas um propósito: vingança. Deseja vingar-se do homem que assassinou sua mãe, seu povo e destruiu seu lar. Talvez ela não amasse sua mãe, seu povo ou seu lar, mas isso a definia. Brigitte está confusa. Ela olha no fundo dos olhos do seu reflexo e não se reconhece, sente como se fosse o único ser de sua espécie a andar sobre a terra. Brigitte não tem ninguém além do seu nêmesis. Ele é o espelho estilhaçado onde ela enxerga a si mesmo todas as noites quando tenta dormir. Sempre a mesma lembrança, tão clara que às vezes ela chega a se perguntar se as imagens se tratam de uma memória ou se são apenas delírios, truques de uma imaginação insana...

Uma floresta coberta pela neve. Uma grande árvore seca na qual sua mãe se escorava, incapaz de reagir. Respiração ofegante, de quem perdeu a batalha. Vestido branco manchado de sangue, sangue de vários, afinal sua mãe era uma guerreira, todas eram, todos eram, ela era. Ela é. A mulher à beira da morte tentava se levantar, apoiando-se nas raízes da árvore sobre a terra. Ela tentava levantar-se, mas seus olhos não enxergavam o homem que iria matá-la, seus olhos enxergavam a morte cavalgando naqueles olhos vazios do assassino, executor, olhos vazios, como os de uma caveira, impassíveis. Ele trespassou a espada no peito da mulher, sem flexionar um músculo em seu rosto; a mãe de Brigitte fechou os olhos para este mundo, apesar de abri-los com violência, em razão do verme de metal que devorara suas entranhas. O sangue escorria por sua boca, manchando o vestido branco, vermelho, branco, vermelho, vermelho, mármore, carmesim, rainha vermelha, rainha vermelha... tabuleiro mármore e carmesim...

16.2.10

Adaga dos Sonhos da Morte e do Morto

Ele corria com um objeto na mão
Um objetivo no peito
E tatuagem nas costas
Uma marca dos três

Ao sorrir para o espelho
Ele riu por não conseguir
Derrotar o alien carmesim
E salvar o alvo dragão alvo

Ele chorou por
Não honrar nenhum dos três
Dos três amuletos e amigos
Amados e Amadas

O vilão morria
Com seus sonhos voando sobre seus olhos
Bem diante de si
O esqueleto, a capa e a foice
Que levou sua vida
E salvou a todos

Dele.

Com uma adaga
No último golpe
Do último suspiro de vida
Ele conjurou uma maldição

Ela dizer que, se o Bem
Derrubasse alguém sórdido como o demônio que vos amaldiçoa
Do altar do plano físico
E trouxesse paz aos inocentes e culpados
Jamais existiria felicidade plena na terra

Assim o homem imundo larga flácido a adaga
Jurando que seria eternamente infeliz
Para perpetuar sua própria maldição

9.2.10

Epitáfio Inevitável

Eles estavam se escorando entre si, apertados e ansiosos. Não sabiam o que viria, mas iriam esperar.
"Por quê? Vamos embora." sussurou alguém num tom melódico.
Outro agarrou a mão mais próxima e crispou a boca, o nariz gelado, simplesmente não respondeu. Ninguém ali iria fugir, ninguém iria se manifestar, esta era a resposta. Era isso, mas se alguém fosse... se alguém fosse iria negar a vida dos companheiros deixados ali, sem dúvida. Iria negar a morte, iria negar alma.
A fileira de garotos e garotas indiciava o destino, a decisão moribunda que fizeram. Aquela noite seria a última, no terreço, nas alturas. Uma noite fria nas alturas, encostando entre si as peles arrepiadas, tremulas, embora seguras, respirando o suor frio dos amigos.
Depois de suspirar o quanto podiam, depois dos sorrisos amarelos, depois de vários "É agora.", depois de olhar para a noite nublada acima tantas vezes, eles se soltaram de corpo e deixaram-os despencar, permanecendo com olhos fechados como se tivessem ido antes da queda.
Morreram.
Seria lindo se não fosse o final. Então aquilo nunca foi lindo, porque o final sempre esteve cravado na carne.
Mereceria aplausos se fosse feliz. E não era?
Eles não sabiam o que poderia acontecer depois daquele show, mas iriam esperar aquilo. Esperar algo acontecer.
Quando você olhar e interpretar os seus respectivos epifáfios irá ver escrito o passado deles em poucas palavras. Um passado resultando qualidades. Um fator. Quando você ler o seu epitáfio irá ver como ele sempre foi inevitável antes da morte. Não importa o quanto fuja, um passado sempre estará disposto a preenchê-lo.

16.1.10

.
Entre a linha do tempo
Homem, que se torna
Que não se fala
Não se veste

Com olhos para o nada
Voltados para si, homem
No ato do inverso
Sob colapso, homem, e desafeto
Em ton profundo
Dominado pelo ego...

10.1.10

# 05 - Martes

Rodney Smith buscava uma solução. Talvez até uma ideia furada fosse o suficiente para que ele não se sentisse um completo derrotado. Nas últimas semanas, três pessoas foram mortas. Não. Muito mais que três pessoas foram mortas mas, essas três em especial, traziam uma marca em sua testa. Gado do rebanho de um mesmo assassino.

Sequer uma nota nos jornais sobre os crimes. Assunto secreto?

E o informante, S. I., pareceu assombrosamente suspeito. “Tomara que a Margot seja a próxima!”, foi o que ele disse, poucos dias antes dela morrer. Mas os três crimes não tinham ligação alguma, a não ser a tal da marca. A primeira era secretária de um curtume ou coisa parecida, que tinha acabado de chegar do interior do estado, em uma viagem curta. O segundo era um médico e a terceira, dona de uma fábrica de sabão. Livradas, sufocamento, intoxicação.

Que calor demoníaco. O maldito ar condicionado decidiu parar de funcionar.

Smith saiu da sala, pois o sol estava sendo impiedoso. Levava as fotos das três vítimas em sua mão, continuava sem encontrar nenhuma ligação. Por que ligação? Talvez o assassino fosse apenas um louco, matando pessoas aleatoriamente. Ou um cliente insatisfeito.

Chegando à recepção, viu Dolores colocando ração em uma tigela plástica para o cão que ainda não foi devolvido. Isso o fez lembrar de Sinval Ibanez, o ex-marido de Margot. Será que ele é S.I? Um tanto direto, mas talvez por isso, mais evasivo. Talvez fosse apenas um modo de incriminar Sinval, um plano de o tornar suspeito, talvez...

“Precisa de alguma coisa, Seu Ney?”

“Sim. Preciso de algo em comum que ligue estas três pessoas”

Mostrou as três fotos para Dolores.

“A Sra. Margot...Essa outra moça eu não conheço, mas esse homem... ele não me é estranho...ah! Encontrei ele no escritório do contador, eu lembro! Ele era muito bravo, assustador.”

“Contador... se ele estava no escritório do meu contador, então é o mesmo contador da Margot, já que foi ela que indicou o sujeito para mim... mas e a outra mulher... Dolores! Descubra quem é o contador do Curtume Azevedo!”

Smith voltou para a sua mesa, as ideias fervilhando na sua cabeça. Tentava não pensar em nada, preferia esperar a informação, saber se existia um traço em comum entre as vítimas, algo

!aaaaaaaaah! (telefone maldito).

“É o mesmo contador, Seu Ney!”

“Obrigado!”

“Ahá!”, pensou Smith.

“Seu Ney, falando nisso, eu precisarei ir lá no contador, tenho que levar aqueles documentos, que já estão bem atrasados, lembra?”

“Sim, sim... não! Não vá no contador! Eu levarei os documentos, obrigado”, disse Smith, desligando o telefone em seguida. Afinal, ele também é um dos clientes do tal contador, o Sandro... não, não é Sandro, parece que é Sandoval, ou Santos, algo assim, a Dolores sabe.

Preparou-se rapidamente, olhou a cidade cinza alaranjada devido aos raios de sol. A janela estava suja, a cidade também; os pensamentos de Smith, turvos. Não queria cometer outro julgamento tão errado. O passado dói.

Já na porta, ao girar a maçaneta, falou para Dolores:

“Se acontecer algo comigo, cuide do cachorro... e fale do contador para a polícia...”

“Certo, mas não irá acontecer nada, eu sei que não. Os documentos não estão tão atrasados assim...”

Smith sorriu, olhando para a menina-esquilo. Por mais estranha que ela pudesse ser, ele gostaria de ter uma filha como ela. Despediu-se e partiu para o escritório de contabilidade.

Dolores mostrou-se um tanto preocupada assim que ele fechou a porta. Discou um número, enquanto olhava em direção à porta fechada.

“Alô, Pedro? Acho que vou precisar da tua ajuda... dos outros também, talvez... não, nenhum problema com os planos, vai acontecer sim... é algo pessoal..."

6.1.10

Cap. 01 - A densa floresta onde o sol não passa.

Ela sentia calor em seu corpo, como se estivesse repousando ao sol da tarde ou sendo coberta por um cobertor de que repousou um dia inteiro no sol. Abriu vagarosamente seus olhos, estava deitada para cima. Olhou para o teto de palha que tinham uns poucos raios de luz atravessando-o. Era uma maloca bem rústica de palha. Pensou que nem nos mundos mais inexplorados havia lugar tão caído quanto aquele.Levantou-se, e observou tudo a sua volta. Percebeu que do lado de fora havia mata, ouvia gritos de crianças brincando.

Alguém lhe chama pelo lado de fora, não era seu verdadeiro nome, mas sentia que era para ela. Levantou – se e andou até a porta da rústica para espiar quem estava gritando. Ao colocar seu rosto para fora, deu de cara com um jovem, talvez da mesma idade que ela, cabelos longo e escarlate fraco como cor, tinha a pele bronzeada, olhos esverdeados e usava roupas indígenas, assim como belas tatuagens onduladas nos braços. Rapidamente eles se deram um pulo para trás de susto e, talvez, de vergonha. Ele a olhava fixamente em seus olhos:

- Taní, O que está fazendo?

- Eu, er... bem...é que...- Estava sem jeito, é claro, mas logo tomou coragem – Eu conheço você?- Olhou com um olhar forte e determinação.

Ao contrário dela, ele estava um pouco confuso e parecia até um pouco receoso, e se limitou nas palavras:

- Taní, sou eu, Ipu. Você voltou para nós. O maligno deus terra levou você no dia da fúria, mas o deus Sol a trouxe de volta, com ele prometeu. –Ele abriu um sorriso meio que tímido – Você voltou para mim...você não se lembra?

- Espera, tem algum engano, eu não sou essa tal de taní. –Ela foi logo se exaltando – tem algum erro aqui. Eu nunca te vi na minha vida! Onde eu estou???Como eu vim parar aqui?? – Ela de tão exaltada começou a chamar a atenção pelos gritos e estrondos que os outros indígenas olhavam curiosos para a maloca que estavam. – Tenho que voltar pra casa!!

Apesar da tremenda confusão, Ipu era toda tranquilidade e tomou a mão dela e a segurou bem forte:

- O velho Irion sabia que isso poderia ocorrer. Ele me pediu para ver como você reagiria e se caso isso ocorresse. Será melhor falarmos com ele. – Ele a olhou em tom forte que ela quase se perdeu naquele olhar. Ela realmente se perguntou se não havia algum engano...

Ambos saíram da maloca e Taní logo ficou maravilhada com a paisagem: Havia varias malocas por perto; crianças correndo e subindo nas árvores baixas; Homens disputando quem era mais forte com brigas e mulheres olhando com olhar de desdém à brincadeira dos homens enquanto teciam o que parecia ser umas redes e velhos sentados em uma roda à entrada da maloca fumando uma espécie de cachimbo. Uma tribo Indígena! Mas, o que mais lhe surpreendia era o céu. Não havia céu, só as arvores que de tão densas passavam – se poucos raios de luz. Os raios ao tocarem nas árvores irradiavam a cor verde-esmeralda por todo lado. Tudo estava pintado de verde...

Taní estava tão distraída que nem percebeu que um velho havia se aproximado deles. Usava uma bengala que não disfarçava a corcunda que tinha adquirido com o tempo; possuía o cabelo na cor púrpura viva e linha de expressão no rosto que condenavam a sua idade; Estava carregando em sua mão uma tigela de barro que continha água e falou em tom serenamente:

- Bom dia Ipu... – e voltando-se Taní – Ah! E um bom dia para você também, seja lá quem você for. – O velho abriu um largo sorriso.

Taní olhou para ele espantada, com se tivesse sido descoberta após um crime. Sentiu-se com uma intrusa. Ipu ao vê-la neste estado, indagou:

- Irion, do que você está falando? Essa aqui é a Taní. – Ipu estava agora confuso. – Ela não se lembra de muitas coisas...

- Está enganado, meu jovem. – Irion retrucou e voltando - se novamente para Taní - Diga, minha jovem, quem você vê aqui. – Irion mostrou para ela a tigela com água. Ao observar, seus olhos arregalaram de tanto espanto. Olhou para si e não se reconhecia.

- Que corpo é esse...essa não sou eu...não é eu!!! Nem ela e nem Ipu estavam entendendo a situação.

--- Fim do capitulo 1 ---