22.2.10

Sensação

Como caloura, vou começar com um pequeno.
Escrevi quando me apaixonei pelo teatro:

O corpo não é mais osso, é a sustentação do amor.
Não é mais nervos, é a ligação da alma com a arte.
Não é músculo, é a força da vontade de fazer o que ama.
E não é mais pele, é o puro arrepio do sentir dos sentidos.

Obrigada pelo convite!(vou me esforçar p atingir o nível do vrrt!)

21.2.10

# 06 - Máscaras

S.I.. “Que besteira”, pensou ele. Não sabia porque acabou usando esta identidade secreta mas, além disso, nunca entendera por que sentiu-se motivado a criar uma identidade secreta. Bem, ele queria ser um herói. O problema é que os heróis só existem nos quadrinhos, filmes, filmes de quadrinhos e nas propagandas de quinta categoria.

Ele nunca passou por nenhum evento traumático, a vida era fácil, sem conflitos; normal, em suma. Os pais perfeitos na infância, poucos amigos, mas leais. Depois o trabalho, tranquilo. A contabilidade sempre foi algo tranquilo para ele, era bom com números. Gostava de falar com os clientes. Era feliz.

Mas sentia-se vazio. A vida parecia não ter sentido, então ele decidia tomar alguma iniciativa, alguma atitude que pudesse melhorar o mundo. Mas nunca conseguia ter uma ideia, os primeiros passos morriam antes de encostar o calcanhar na trilha. Mas achava que apenas ajudar as pessoas em geral era pouco, ele queria registrar o seu nome na história, queria fazer algo grande. Salvar vidas, fazer justiça com as próprias mãos. Afinal, é a ânsia de todo ser humano. Ser lembrado.

Mas ele era muito fraco. Tentou musculação e karatê, mas ficou apenas um mês em ambos, não; 25 dias na musculação e 19 no karatê. Não era muito esperto também, mas enfim, ele não era muita coisa, em suma.

Seus pensamentos foram interrompidos pelas batidas na porta. Devia ser algum cliente cobrando relatórios atrasados, como sempre. Foi atender a porta, lentamente. Ao olhar pelo olho mágico, viu que era Rodney Smith. Sentiu seu peito inflar-se com alguma esperança... mas depois lembrou que Ney não sabia que ele era S. I.; simulou um rosto convidativo e surpreso, depois abriu a porta:

“Olá...”, disse Smith enquanto tentava lembrar o nome do contador.

“Silas, Sr. Ney. Tudo bem?”

Enquanto o Detetive Smith entrava no pequeno apartamento que servia de escritório e dormitório para Silas, três vultos esgueiravam-se no corredor.

Por uma fração de segundo, podia-se imaginar que um dos vultos trazia em sua mão direita uma faca de sobrevivência tamanho grande com uma afiadíssima lâmina em aço anodizado, parte superior com serra dentilhada e cabo anti-deslizante com protetor de mão vazado...

18.2.10

1 - A menina no trem

Através da janela embaçada do trem, uma menina vislumbrava vastos campos verdes. Ainda verdes. O verde, outrora quase um monumento do eterno, nos dias de hoje não passa de um estado transitório, quase um pré-cinza. Ela sabe que terá um futuro cinzento pela frente; no entanto, ao fechar seus olhos, lentamente assiste gotas vermelhas escorrendo sobre a escuridão de seus pensamentos, tal qual os pingos de chuva que escorrem pela janela de vidro, embaçada pelos seus suspiros condensados. Os sentimentos também se condensam. Às vezes, tornam-se tão sólidos que parecemos vestir máscaras.

Os humanos são muito suscetíveis aos próprios sentimentos. Tomemos a ira como exemplo. Quando encolerizado, o humano sente como se uma corrente elétrica circulasse por suas veias, percorrendo cada célula, o alimentando. Os olhos fixos, os batimentos cardíacos aceleram. Alguns gritam, outros simulam o silêncio da estática; outros, apenas sorriem. Mas não devíamos falar de eletricidade, não desta forma. Afinal, ela só será utilizada para alimentar os maquinários fabris daqui a uns dois séculos. Estamos na era do vapor, não o mesmo vapor que se condensa em gotículas de água nos vidros dos trens. Falo do vapor que se condensa em gotículas de sangue no ouro. Ouro de poucos, sangue de muitos, como sempre foi e sempre será.

A menina no trem chama-se Brigitte. Ela está viajando com apenas um propósito: vingança. Deseja vingar-se do homem que assassinou sua mãe, seu povo e destruiu seu lar. Talvez ela não amasse sua mãe, seu povo ou seu lar, mas isso a definia. Brigitte está confusa. Ela olha no fundo dos olhos do seu reflexo e não se reconhece, sente como se fosse o único ser de sua espécie a andar sobre a terra. Brigitte não tem ninguém além do seu nêmesis. Ele é o espelho estilhaçado onde ela enxerga a si mesmo todas as noites quando tenta dormir. Sempre a mesma lembrança, tão clara que às vezes ela chega a se perguntar se as imagens se tratam de uma memória ou se são apenas delírios, truques de uma imaginação insana...

Uma floresta coberta pela neve. Uma grande árvore seca na qual sua mãe se escorava, incapaz de reagir. Respiração ofegante, de quem perdeu a batalha. Vestido branco manchado de sangue, sangue de vários, afinal sua mãe era uma guerreira, todas eram, todos eram, ela era. Ela é. A mulher à beira da morte tentava se levantar, apoiando-se nas raízes da árvore sobre a terra. Ela tentava levantar-se, mas seus olhos não enxergavam o homem que iria matá-la, seus olhos enxergavam a morte cavalgando naqueles olhos vazios do assassino, executor, olhos vazios, como os de uma caveira, impassíveis. Ele trespassou a espada no peito da mulher, sem flexionar um músculo em seu rosto; a mãe de Brigitte fechou os olhos para este mundo, apesar de abri-los com violência, em razão do verme de metal que devorara suas entranhas. O sangue escorria por sua boca, manchando o vestido branco, vermelho, branco, vermelho, vermelho, mármore, carmesim, rainha vermelha, rainha vermelha... tabuleiro mármore e carmesim...

16.2.10

Adaga dos Sonhos da Morte e do Morto

Ele corria com um objeto na mão
Um objetivo no peito
E tatuagem nas costas
Uma marca dos três

Ao sorrir para o espelho
Ele riu por não conseguir
Derrotar o alien carmesim
E salvar o alvo dragão alvo

Ele chorou por
Não honrar nenhum dos três
Dos três amuletos e amigos
Amados e Amadas

O vilão morria
Com seus sonhos voando sobre seus olhos
Bem diante de si
O esqueleto, a capa e a foice
Que levou sua vida
E salvou a todos

Dele.

Com uma adaga
No último golpe
Do último suspiro de vida
Ele conjurou uma maldição

Ela dizer que, se o Bem
Derrubasse alguém sórdido como o demônio que vos amaldiçoa
Do altar do plano físico
E trouxesse paz aos inocentes e culpados
Jamais existiria felicidade plena na terra

Assim o homem imundo larga flácido a adaga
Jurando que seria eternamente infeliz
Para perpetuar sua própria maldição

9.2.10

Epitáfio Inevitável

Eles estavam se escorando entre si, apertados e ansiosos. Não sabiam o que viria, mas iriam esperar.
"Por quê? Vamos embora." sussurou alguém num tom melódico.
Outro agarrou a mão mais próxima e crispou a boca, o nariz gelado, simplesmente não respondeu. Ninguém ali iria fugir, ninguém iria se manifestar, esta era a resposta. Era isso, mas se alguém fosse... se alguém fosse iria negar a vida dos companheiros deixados ali, sem dúvida. Iria negar a morte, iria negar alma.
A fileira de garotos e garotas indiciava o destino, a decisão moribunda que fizeram. Aquela noite seria a última, no terreço, nas alturas. Uma noite fria nas alturas, encostando entre si as peles arrepiadas, tremulas, embora seguras, respirando o suor frio dos amigos.
Depois de suspirar o quanto podiam, depois dos sorrisos amarelos, depois de vários "É agora.", depois de olhar para a noite nublada acima tantas vezes, eles se soltaram de corpo e deixaram-os despencar, permanecendo com olhos fechados como se tivessem ido antes da queda.
Morreram.
Seria lindo se não fosse o final. Então aquilo nunca foi lindo, porque o final sempre esteve cravado na carne.
Mereceria aplausos se fosse feliz. E não era?
Eles não sabiam o que poderia acontecer depois daquele show, mas iriam esperar aquilo. Esperar algo acontecer.
Quando você olhar e interpretar os seus respectivos epifáfios irá ver escrito o passado deles em poucas palavras. Um passado resultando qualidades. Um fator. Quando você ler o seu epitáfio irá ver como ele sempre foi inevitável antes da morte. Não importa o quanto fuja, um passado sempre estará disposto a preenchê-lo.