Através da janela embaçada do trem, uma menina vislumbrava vastos campos verdes. Ainda verdes. O verde, outrora quase um monumento do eterno, nos dias de hoje não passa de um estado transitório, quase um pré-cinza. Ela sabe que terá um futuro cinzento pela frente; no entanto, ao fechar seus olhos, lentamente assiste gotas vermelhas escorrendo sobre a escuridão de seus pensamentos, tal qual os pingos de chuva que escorrem pela janela de vidro, embaçada pelos seus suspiros condensados. Os sentimentos também se condensam. Às vezes, tornam-se tão sólidos que parecemos vestir máscaras.
Os humanos são muito suscetíveis aos próprios sentimentos. Tomemos a ira como exemplo. Quando encolerizado, o humano sente como se uma corrente elétrica circulasse por suas veias, percorrendo cada célula, o alimentando. Os olhos fixos, os batimentos cardíacos aceleram. Alguns gritam, outros simulam o silêncio da estática; outros, apenas sorriem. Mas não devíamos falar de eletricidade, não desta forma. Afinal, ela só será utilizada para alimentar os maquinários fabris daqui a uns dois séculos. Estamos na era do vapor, não o mesmo vapor que se condensa em gotículas de água nos vidros dos trens. Falo do vapor que se condensa em gotículas de sangue no ouro. Ouro de poucos, sangue de muitos, como sempre foi e sempre será.
A menina no trem chama-se Brigitte. Ela está viajando com apenas um propósito: vingança. Deseja vingar-se do homem que assassinou sua mãe, seu povo e destruiu seu lar. Talvez ela não amasse sua mãe, seu povo ou seu lar, mas isso a definia. Brigitte está confusa. Ela olha no fundo dos olhos do seu reflexo e não se reconhece, sente como se fosse o único ser de sua espécie a andar sobre a terra. Brigitte não tem ninguém além do seu nêmesis. Ele é o espelho estilhaçado onde ela enxerga a si mesmo todas as noites quando tenta dormir. Sempre a mesma lembrança, tão clara que às vezes ela chega a se perguntar se as imagens se tratam de uma memória ou se são apenas delírios, truques de uma imaginação insana...
Uma floresta coberta pela neve. Uma grande árvore seca na qual sua mãe se escorava, incapaz de reagir. Respiração ofegante, de quem perdeu a batalha. Vestido branco manchado de sangue, sangue de vários, afinal sua mãe era uma guerreira, todas eram, todos eram, ela era. Ela é. A mulher à beira da morte tentava se levantar, apoiando-se nas raízes da árvore sobre a terra. Ela tentava levantar-se, mas seus olhos não enxergavam o homem que iria matá-la, seus olhos enxergavam a morte cavalgando naqueles olhos vazios do assassino, executor, olhos vazios, como os de uma caveira, impassíveis. Ele trespassou a espada no peito da mulher, sem flexionar um músculo em seu rosto; a mãe de Brigitte fechou os olhos para este mundo, apesar de abri-los com violência, em razão do verme de metal que devorara suas entranhas. O sangue escorria por sua boca, manchando o vestido branco, vermelho, branco, vermelho, vermelho, mármore, carmesim, rainha vermelha, rainha vermelha... tabuleiro mármore e carmesim...
A outra série foi morta e enterrada. Tive de me render, pois ela estava realmente ruim.
ResponderExcluirEssa não parece ser tão melhor, mas ao menos eu gosto dela.
Hasta.
é bom. eu sei que vai ter capítulos interessantes a frente, vindo de você (mesmo que eu saiba o que vai acontecer, pode contar o resto tb! xD)
ResponderExcluirmas sabe? eu gostava muito mais de A51 (e Dolores ainda é foda!) eu não li o último capítulo ._.
Bem... Paraísos descartáveis está sendo algo difícil de criar (Droga, estou empacado em determinado pedaço). Mas a51... você gostava mesmo daquilo? Tive alguma ideia esses dias, mas sei lá. Acho que depois do segundo capítulo, ela se perdeu, caiu em alta velocidade como se fosse uma ervilha kamikaze.
ResponderExcluirEu sou um idiota. Devia escrever nonsense e não tramas investigativas e/ou épicos-industriais-alternativos.
Desculpem-me pelo desabafo, caros vrttistas... mas estou sentindo minha atividade periférica de escritor fracassado tornar-se escritor ridículamente fracassado.
Sabem por que que a ervilha não aceitou o pedido de casamento do ervilho?
R: Por que ele não ervalhia nada.
Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmm