18.10.09

# 01 - Apenas mais um prólogo típico...



Sentado em sua cadeira, o Detetive Rodney Smith investigava. Averiguava algo que provavelmente era uma pista. Uma fatura telefônica. Seu rosto estava cansado, os cabelos, que já exibiam alguns fios prateados, e a barba por fazer lhe pesavam visualmente uns dez anos de idade a mais. A mesa, que devia ter sido muito bela há umas duas décadas, estava repleta de papéis, pastas e algumas fotos. No entanto, ele ainda analisava a fatura telefônica. Finalmente, chamou a sua secretária:

“Dolores!”

Prontamente, Dolores irrompeu à porta após alguns instantes, anunciada por um breve rangido desta:

“Sim, Seu Ney.” – disse, ostentando um sorriso metálico vacilante.

Dolores aparentava ter 17 anos de idade e parecia um esquilo.

“De quem é esse telefone aqui... 51 3023-XXXX ?”

“Ahn... desculpa, Seu Ney... eu tive de ligar, foi uma emergência. É o telefone do meu avô.”

“Estranho, pois eu liguei agora há pouco, e poderia jurar que era de uma loja de artigos de caça e pesca.”

“Bem...ahn... ah... ele teve um ataque cardíaco... então o médico recomendou um hobby, algo relaxante... pesca. Então... então eu decidi comprar algo para estimulá-lo no novo hobby, então. Desculpe por eu ter ligado...”

“Ah, sim... não, sem problemas... é ligação local mesmo. Só achei incomum.” Dolores abriu outro sorriso metálico, aliviada. Ela realmente parece um esquilo. “E o que você comprou para ele?”

Os olhos de Dolores brilharam.

“Uma faca de sobrevivência tamanho grande com uma afiadíssima lâmina em aço anodizado, parte superior com serra dentilhada e cabo anti-deslizante com protetor de mão vazado. E ainda tem uma tampa com cordão e bússola, parte interna do cabo oca com linha de costura, agulha, fósforos e riscador de fósforo e...”

“...”

“...”

Oportunamente, a campainha começara a tocar na recepção. Ela foi atender, explicando a saída com um gesto com a cabeça e mãos.

Houve um momento desconcertante entre Smith e a seus próprios pensamentos. Momento este quebrado pelo barulho absurdamente alto e arcaico do telefone em sua mesa. Sempre se assustava com aquela porcaria de telefone.

“Seu Ney, a Sra. Margot deseja falar com o senhor...” chiou a voz de sua recepcionista.

“Por favor, traga ela até a minha sala.”

O Detetive Smith ajeitou o cabelo com a mão direita e afrouchou levemente a gravata verde-musgo. “Droga”, pensou ao notar a gravata verde-musgo. Era uma gravata particularmente feia em relação as demais que possuia, isso sem deixar de considerar que as outras não eram lá grande coisa também. Estava ficando antiquado.

Com o rangido saxofonístico da porta anunciando sua entrada, Margot deslizou para dentro do aposento, encarando os olhos de Smith; estes encontraram apenas a impessoalidade dos óculos escuros absurdamente grandes dela e a agressão visual dos lábios vermelhos que se destacavam em seu rosto pálido. Após um instante, ela abriu um sorriso grave com a boca fechada e sentou-se em frente a Smith:

“Ney, eu preciso dos teus serviços”. Sua voz tinha aquele tipo de pastosidade rouca que provavelmente indicaria algum problema extremamente estarrecedor. Talvez um sumiço de poodles ou roubo de jóias, coisas típicas. “Afinal, o mundo em que vivemos é muito típico”, pensou o detetive Rodney Smith.

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