16.1.10

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Entre a linha do tempo
Homem, que se torna
Que não se fala
Não se veste

Com olhos para o nada
Voltados para si, homem
No ato do inverso
Sob colapso, homem, e desafeto
Em ton profundo
Dominado pelo ego...

10.1.10

# 05 - Martes

Rodney Smith buscava uma solução. Talvez até uma ideia furada fosse o suficiente para que ele não se sentisse um completo derrotado. Nas últimas semanas, três pessoas foram mortas. Não. Muito mais que três pessoas foram mortas mas, essas três em especial, traziam uma marca em sua testa. Gado do rebanho de um mesmo assassino.

Sequer uma nota nos jornais sobre os crimes. Assunto secreto?

E o informante, S. I., pareceu assombrosamente suspeito. “Tomara que a Margot seja a próxima!”, foi o que ele disse, poucos dias antes dela morrer. Mas os três crimes não tinham ligação alguma, a não ser a tal da marca. A primeira era secretária de um curtume ou coisa parecida, que tinha acabado de chegar do interior do estado, em uma viagem curta. O segundo era um médico e a terceira, dona de uma fábrica de sabão. Livradas, sufocamento, intoxicação.

Que calor demoníaco. O maldito ar condicionado decidiu parar de funcionar.

Smith saiu da sala, pois o sol estava sendo impiedoso. Levava as fotos das três vítimas em sua mão, continuava sem encontrar nenhuma ligação. Por que ligação? Talvez o assassino fosse apenas um louco, matando pessoas aleatoriamente. Ou um cliente insatisfeito.

Chegando à recepção, viu Dolores colocando ração em uma tigela plástica para o cão que ainda não foi devolvido. Isso o fez lembrar de Sinval Ibanez, o ex-marido de Margot. Será que ele é S.I? Um tanto direto, mas talvez por isso, mais evasivo. Talvez fosse apenas um modo de incriminar Sinval, um plano de o tornar suspeito, talvez...

“Precisa de alguma coisa, Seu Ney?”

“Sim. Preciso de algo em comum que ligue estas três pessoas”

Mostrou as três fotos para Dolores.

“A Sra. Margot...Essa outra moça eu não conheço, mas esse homem... ele não me é estranho...ah! Encontrei ele no escritório do contador, eu lembro! Ele era muito bravo, assustador.”

“Contador... se ele estava no escritório do meu contador, então é o mesmo contador da Margot, já que foi ela que indicou o sujeito para mim... mas e a outra mulher... Dolores! Descubra quem é o contador do Curtume Azevedo!”

Smith voltou para a sua mesa, as ideias fervilhando na sua cabeça. Tentava não pensar em nada, preferia esperar a informação, saber se existia um traço em comum entre as vítimas, algo

!aaaaaaaaah! (telefone maldito).

“É o mesmo contador, Seu Ney!”

“Obrigado!”

“Ahá!”, pensou Smith.

“Seu Ney, falando nisso, eu precisarei ir lá no contador, tenho que levar aqueles documentos, que já estão bem atrasados, lembra?”

“Sim, sim... não! Não vá no contador! Eu levarei os documentos, obrigado”, disse Smith, desligando o telefone em seguida. Afinal, ele também é um dos clientes do tal contador, o Sandro... não, não é Sandro, parece que é Sandoval, ou Santos, algo assim, a Dolores sabe.

Preparou-se rapidamente, olhou a cidade cinza alaranjada devido aos raios de sol. A janela estava suja, a cidade também; os pensamentos de Smith, turvos. Não queria cometer outro julgamento tão errado. O passado dói.

Já na porta, ao girar a maçaneta, falou para Dolores:

“Se acontecer algo comigo, cuide do cachorro... e fale do contador para a polícia...”

“Certo, mas não irá acontecer nada, eu sei que não. Os documentos não estão tão atrasados assim...”

Smith sorriu, olhando para a menina-esquilo. Por mais estranha que ela pudesse ser, ele gostaria de ter uma filha como ela. Despediu-se e partiu para o escritório de contabilidade.

Dolores mostrou-se um tanto preocupada assim que ele fechou a porta. Discou um número, enquanto olhava em direção à porta fechada.

“Alô, Pedro? Acho que vou precisar da tua ajuda... dos outros também, talvez... não, nenhum problema com os planos, vai acontecer sim... é algo pessoal..."

6.1.10

Cap. 01 - A densa floresta onde o sol não passa.

Ela sentia calor em seu corpo, como se estivesse repousando ao sol da tarde ou sendo coberta por um cobertor de que repousou um dia inteiro no sol. Abriu vagarosamente seus olhos, estava deitada para cima. Olhou para o teto de palha que tinham uns poucos raios de luz atravessando-o. Era uma maloca bem rústica de palha. Pensou que nem nos mundos mais inexplorados havia lugar tão caído quanto aquele.Levantou-se, e observou tudo a sua volta. Percebeu que do lado de fora havia mata, ouvia gritos de crianças brincando.

Alguém lhe chama pelo lado de fora, não era seu verdadeiro nome, mas sentia que era para ela. Levantou – se e andou até a porta da rústica para espiar quem estava gritando. Ao colocar seu rosto para fora, deu de cara com um jovem, talvez da mesma idade que ela, cabelos longo e escarlate fraco como cor, tinha a pele bronzeada, olhos esverdeados e usava roupas indígenas, assim como belas tatuagens onduladas nos braços. Rapidamente eles se deram um pulo para trás de susto e, talvez, de vergonha. Ele a olhava fixamente em seus olhos:

- Taní, O que está fazendo?

- Eu, er... bem...é que...- Estava sem jeito, é claro, mas logo tomou coragem – Eu conheço você?- Olhou com um olhar forte e determinação.

Ao contrário dela, ele estava um pouco confuso e parecia até um pouco receoso, e se limitou nas palavras:

- Taní, sou eu, Ipu. Você voltou para nós. O maligno deus terra levou você no dia da fúria, mas o deus Sol a trouxe de volta, com ele prometeu. –Ele abriu um sorriso meio que tímido – Você voltou para mim...você não se lembra?

- Espera, tem algum engano, eu não sou essa tal de taní. –Ela foi logo se exaltando – tem algum erro aqui. Eu nunca te vi na minha vida! Onde eu estou???Como eu vim parar aqui?? – Ela de tão exaltada começou a chamar a atenção pelos gritos e estrondos que os outros indígenas olhavam curiosos para a maloca que estavam. – Tenho que voltar pra casa!!

Apesar da tremenda confusão, Ipu era toda tranquilidade e tomou a mão dela e a segurou bem forte:

- O velho Irion sabia que isso poderia ocorrer. Ele me pediu para ver como você reagiria e se caso isso ocorresse. Será melhor falarmos com ele. – Ele a olhou em tom forte que ela quase se perdeu naquele olhar. Ela realmente se perguntou se não havia algum engano...

Ambos saíram da maloca e Taní logo ficou maravilhada com a paisagem: Havia varias malocas por perto; crianças correndo e subindo nas árvores baixas; Homens disputando quem era mais forte com brigas e mulheres olhando com olhar de desdém à brincadeira dos homens enquanto teciam o que parecia ser umas redes e velhos sentados em uma roda à entrada da maloca fumando uma espécie de cachimbo. Uma tribo Indígena! Mas, o que mais lhe surpreendia era o céu. Não havia céu, só as arvores que de tão densas passavam – se poucos raios de luz. Os raios ao tocarem nas árvores irradiavam a cor verde-esmeralda por todo lado. Tudo estava pintado de verde...

Taní estava tão distraída que nem percebeu que um velho havia se aproximado deles. Usava uma bengala que não disfarçava a corcunda que tinha adquirido com o tempo; possuía o cabelo na cor púrpura viva e linha de expressão no rosto que condenavam a sua idade; Estava carregando em sua mão uma tigela de barro que continha água e falou em tom serenamente:

- Bom dia Ipu... – e voltando-se Taní – Ah! E um bom dia para você também, seja lá quem você for. – O velho abriu um largo sorriso.

Taní olhou para ele espantada, com se tivesse sido descoberta após um crime. Sentiu-se com uma intrusa. Ipu ao vê-la neste estado, indagou:

- Irion, do que você está falando? Essa aqui é a Taní. – Ipu estava agora confuso. – Ela não se lembra de muitas coisas...

- Está enganado, meu jovem. – Irion retrucou e voltando - se novamente para Taní - Diga, minha jovem, quem você vê aqui. – Irion mostrou para ela a tigela com água. Ao observar, seus olhos arregalaram de tanto espanto. Olhou para si e não se reconhecia.

- Que corpo é esse...essa não sou eu...não é eu!!! Nem ela e nem Ipu estavam entendendo a situação.

--- Fim do capitulo 1 ---

5.1.10

A trágica história dos caramujos assassinos

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Numa bela manhã ensolarada, eu, meu irmão e meu pai fomos à pet shop. Chegando lá, havia uma variedade de animais: filhotes de cães, gatos, hamsters, pássaros, coelhos, chinchilas, preás... Mas o nosso alvo eram os peixes. Não que peixes sejam animais melhores. Eu, particularmente, os acho entediantes. E não deve ser divertido passar toda a sua vida boiando num pequeno recipiente de vidro. Porém, o custo de criação é excepcionalmente menor.

Paramos em frente ao aquário. Peixes de todas as cores, formas e tamanhos. Infelizmente eram muito caros, os coloridos. É claro, compramos os mais sem-graça de todos. Eram um par, mas nunca cheguei a saber se eram um casal ou não. Meio beges, com uma fina listra horizontal azul. Não se moviam muito, não brincavam, faziam nada (trocadilho infâme, desculpem).

Mas no aquário, também havia alguns caramujos, redondos, gordos, do tamanho de bolas de ping pong. Alguém deu a idéia de comprar dois daqueles malditinhos.

Levamos os quatro pra casa, colocamos num aquário pequeno, arredondado. E ficaram lá... fazendo nada. Os alimentávamos com uma ração em formato de bolinhas, avermelhada, com cheiro de... peixe. Um erro.

Talvez aquela ração não fosse uma boa idéia. Transformou os caramujos em mutantes. Eles eram deveras espertos para animais com fama de lentos. Conseguiam abocanhar - com o quê eu não sei - tantas bolinhas quanto os peixes.

Tudo corria bem embaixo da calma e não tão cristalina água do aquário. Peixes nadavam e moluscos se arrastavam nojentamente. Até o fatídico dia.

Um dos peixes jazia encostado no fundo do aquário, murcho e branco. Quando tentávamos descobrir o que havia acontecido ao pobrezinho, fomos expostos à chocante cena:

Um caramujo se agarrou ao lado do corpo do peixe sobrevivente e começou a sugar todas as suas vísceras com o estranho orifício que fazia as vezes de boca. Logo, o parceiro do vil molusco se prendeu ao outro lado do animal, que encurralado, viu seu destino sendo selado pelas terríveis sanguessugas.

Em poucos segundos a vida do infeliz animal foi tirada, em meio à dor e à agonia. Só restava a casca dos dois pobres peixes.

É claro que isso não podia ficar assim. Meu irmão, possuído pela raiva, atirou os dois assassinos pela janela do 2º andar. E explodiram no cimento, deixando para trás um aquário vazio e seus cadáveres gosmentos no quintal da minha vó.



[Baseado em fatos verídicos]

2.1.10

Pensei em ficar sóbrio
Mas, observei cauteloso, o óleo.
Sobre a pedra, deslizando.
Olhos Negros surgem na cabeça.

Não é imaginação, não é ilusão.
Saio à janela, a brisa guia os pássaros.
Algo fugaz me traz seu cheiro
A bruma, não consegue findar o óleo.

Meus pensamentos continuam pálidos
Vago pelos planos
A interseção de estrelas me guia,
O tempo tornou-se obsoleto.