19.7.10

HOFFMAN Pt. 01

Por Ykaro Venâncio





Os pensamentos de Thaj estavam confusos, olhava para a janela, sentia-se preso, ligou para Sther, pressionado, desmotivado, incontrolado, não sabia o que falar. Ela não atende sua ligação, gerando dentro de si pensamentos agonizantes, depressivos, assustadores, enfim, pegou algumas roupas, alimentos, e uma manta, talvez ainda tivesse um pouco de dinheiro na carteira. Desceu rápido, muito rápido pelas escadas, não quis esperar pelo elevador, uma breve despedida ao porteiro, e pronto, já estava fora do castelo de aço, procurando algumas moedas pagou por uma ligação, não disse o motivo e nem para onde ia, apenas que era preciso, assim ela estaria em segurança. Desligou o telefone, correu por duas quadras, rápido, meio minuto, desapareceu...

Era manhã, sapatos e ternos deslizavam entre os corredores, olhares maliciosos se entrelaçavam, e os telefones não paravam de tocar. Sther, pontualmente, passa pela sala da diretoria, o olhar de Ulisses estava à espera, e mais um dia ele presencia aquele cena desnecessária, tola: o Dr. Hoffman flertando com a recém contratada para a área contábil da empresa. Os olhos de Ulisses entristecem, logo algo o chama para a realidade: - Atenda ao telefone Ulisses! Cristo!
- Ah... Claro senhor Hoffman, me desculpe.
Ulisses era responsável pela área de vendas internas e externas da empresa para clientes multinacionais, conheceu Hoffman em uma feira de vendas onde administradores e estudantes da área se encontram para debaterem idéias e propostas, e em um destes dias Hoffman conheceu Ulisses , recém graduado, bilíngüe e muito astuto, desde então o jovem vêm auxiliando o empresário, o que Hoffman já havia percebido era que sempre que Sther sorria para ele, Ulisses demonstrava certa irritação e um notório ciúme. O que Hoffman não sabia era que, Ulisses, era a paixão de Sther.
- Do que se tratava o telefonema? – pergunta Hoffman
- Uma confirmação de relatório de pesquisa senhor, para o fechamento deste semestre.- responde Ulisses apreensivo.
- Me faz um favor?
-Claro doutor, o que o senhor deseja?
- Vá até Margareth, e diga a ela que eu solicito a presença dela, por favor, aproveite e pegue uma pasta amarela em cima de minha mesa e leve-a para Sther, diga a ela que é sobre os registros atuais da B.I.F.H., ela deve começar esta semana neste setor conosco, então preciso que ela se atualize com as informações mais recentes, o resto ela se adapta com o tempo, ah, já ia me esquecendo, diga a Sther para ligar em meu ramal, por gentileza...
Ulisses pegou a pasta na sala de Hoffman, estava leve, ele não quis imaginar do que se tratava. Saiu, falou com Margareth, enquanto Hoffman o observava de longe de sua sala, observou o momento em que Ulisses se aproximou de Sther, (que ocasionalmente se encontrara no corredor) seu corpo parecia tremer, gesticulava de forma bastante ligeira, parecia querer dizer algo a mais, mas Sther apenas recebeu a pasta e sorriu, enquanto voltava ao trabalho que exercia, enquanto Ulisses logo se dissipou.
- Dr. Hoffman! – Margareth pela terceira vez.
- Ah, sim, nossa, você veio rápido...
Inventou qualquer desculpa e logo se desfez da secretária, o que o intrigava já havia sido esclarecido, mas Ulisses não era uma ameaça, ou era? Era seu amigo, mas agora não pensava nisso, observou as garrafas de uísque, os charutos, o copo vazio, e pensava os carros na avenida, e pensava, como pequenas formigas, e pensava, apanhou um livro, sobre economia, práticas rotineiras administrativas, não sabia, não estava lendo. Apenas pensava, pensava, pensav...

O barulho do chuveiro acalmava, o cenário era o de sempre: bolsa sobre o braço do sofá que sua mãe lhe deu, chaves penduradas, às vezes jogadas, como os sapatos que circulavam pelos cômodos do apartamento, que parecia mais uma sauna durante este mesmo horário de todos os dias da semana, a empresa não abria suas portas nos finais de semana, e neste caso era sexta-feira, e como de costume Sther se preparava para jantar com algumas amigas, reencontrá-las para a velha reunião de sempre.
Nove da noite, Sther se apresenta no Opacus Pub, lá encontrou Sâmara, Veronika, e uma outra conhecida, de quem não se lembrara o nome, mas já havia visto em uma loja de roupas quando estava acompanhada do ex-namorado. Se sentaram, e logo, todas elas já estavam rindo das noticias peculiares da semana de cada uma.
Enquanto isso, em outro lado da cidade, em um subúrbio não muito freqüentado, mais conhecido como, O Lado dos Homens, vagava Thaj, não obtivera sucesso em suas últimas ligações, mas de súbito, pensou em ligar novamente. Discava rápido, o tempo parecia frenético, se encontrava em uma espécie de viela, tudo escuro, não completamente, estava na penumbra, os dedos trêmulos terminavam de discar os últimos números...

Um aparelho celular toca...
Chamada não identificada...
Os olhos se enfurecem, mas ela decide atender...

-Alô!- em um tom um pouco alto, devido às vozes e à musica ambiente.
- E...sou eu Th...
-Eu já sei quem é, o que você quer comigo?!- em tom agora enfurecido
- Olha, eu queria me explicar, não quis sair daquele jeito, mas provavelmente o sindico deve ter comentado como sai às pressas... – interronpido!
- Claro que sim Thaj, ou você acha que ninguém percebeu que você derrubou um vazo na recepção?! Cristo! Você poderia ter me ligado, quer dizer, você não atende minhas ligações, o que ta acontecendo? Desde aquela nossa conversa que você vêm agindo de maneira estranha, eu estou confusa e cansada disso, e você... Sempre com seus segredos, ah, sinceramente eu queria entender...
- Olha me perdoe meu amor, eu quero lhe contar tudo, mas quando você estiv...
-Preparada!- explosão! Raiva!
-Não me ligue mais Thaj! Desapareça!!!- desligou, trêmula.
As amigas a observavam, com um certo ar de quem via a um estranho espetáculo, o bar também se deu ao trabalho, aumentando ainda mais o constrangimento de Sther. Pegou sua bolsa, as lágrimas começavam a cair pelos olhos, sai correndo do bar.
Thaj, olhando por uns minutos para o celular, ainda não entendia o que queria dizer, pegou a carta que recebera há algumas semanas no bolso esquerdo da jaqueta, onde sempre guardava os cigarros, que talvez já nem fumasse mais. Sentou-se em uma por de um apartamento abandonado, a viela, não muito perigosa, apresentava alguns ratos, cachorros, e dois ou três mendigos espalhados pela sólida e gélida calçada, refletindo os mistérios da vida, que os levaram a estar ali hoje, naquela viela sem vida e sem amigos.

-Hoffman!
- Oi, eh... desculpa, mas, droga! –desligou o telefone.
O telefone volta a tocar.
-É alguma gracinha, porque se for eu já to....
-Sou eu, Sther.
- Oh, porque não disse antes minha cara, tudo bem? Boa noite.
-Sim esta, bem, na verdade, não muito, estava no Opacus com umas amigas, e, sei la, queria conversar um pouco, estou atrapalhando?
- Não, sem duvida nenhuma, onde você esta, agora exatamente? – pergunta Hoffman, com certa empolgação.
- Bem, agora estou aqui, do lado de fora, minhas amigas estão lá dentro, e sei lá, queria conversar...
-Olha não saia daí, em um minuto eu chego! – saiu mais do que apressado, afinal, era sua chance, o diretor administrativo não poderia perder isso.

(CONTINUA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário