24.7.10

Entre a Cruz e a Estrela

Me encontro onde os mortos repousam, onde vejo pessoas sofridas molharem as lápides com as lágrimas de suas saudades. Frias, imponentes e gélidas, as lápides estão fincadas no terreno, surgindo da terra como galhos secos sinalizando que sua vida terrena se esvaiu.
Foi quando uma criança, segurando uma rosa amarela resém arrancada, senta e olha para lápide de sua mãe como quem olha para um passado infinito.
Eu observava de longe, lembrando da foto fixada na lápide, de uma mulher maltratada, velha e cansada da vida. Vejo a mesma mulher jovem, feliz, uma mulher que encontrou no espelho da morte seu rosto perdido em vida.
Choro. Em seguida enxugo as lágrimas rapidamente, tempo suficiente para que mãe e filha desapareçam. Só a lápide estava lá, como um Guarda Roupa Alemão me chamando, parecendo guardar um segredo. Quando fico cara a cara com a pedra esculpida percebo, como dois personagens de uma história, uma cruz e uma estrela datando datas trocadas ao meu ponto de vista.
A cruz, deveria representar o nascimento daquela mãe, sofrida e acabada como tantos crucificados. E a estrela com suas cinco pontas irradiadoras de luz, representaria sua morte, momento de eterno alívio e repouso.
Até hoje não sei se a cena que vi foi real ou não, só sei que vejo, a cada chuva, as gotas darem vida à rosa amarela enraizada ao lado da lápide de uma mulher que conquistou a felicidade.

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