9.7.10

A Nova Aprendiz Parte 01

Por Ykaro Venâncio


Era como se ele sentisse que a chuva era uma parte de si, sentado, ambiente sólido, vazio, a neblina cobria o céu em um tom acinzentado, seus olhos procuravam por mãos inexistentes, estava perto de uma árvore, e o medo da inocência ou incoerência fazia os dentes estalarem, com breves olhares, tinha a impressão de ver vultos. Não, era apenas a brisa gélida vinda do leste, a terra molhada não tinha cheiro a não ser o da própria chuva. Olhos verdes, galhos pelo chão, corpo forte, as lembranças, sim, queimava-lhe a alma, levantou-se olhando para um horizonte nebuloso, pois não havia muito à sua frente se não poeira e chuva, desdenhando-o. Era como se a natureza lhe ignorasse a existência, castigando-o com a solidão incoerente, mas não, ainda havia o corpo dela, por entre o campo que parecia se movimentar tão forte com o vento, que acabava adquirindo aspecto de vida, era como se Gaia se vingasse deste pobre desgraçado, que agora corria aos braços de sua amada, na esperança de vida. Mas ela não se movia, e um corpo vivo é bem diferente de um corpo morto, ele teria presenciado os dois na guerra pra saber disso.
Amargurado, não tinha força sequer para gritar a morte daquela que preenchia o vazio de seus dias, levado pelo vento, que agora se apresentava mais gélido, arriscava-se por entre alguns arbustos, que lhe atrapalhavam a visão sobre forte efeito da ventania, como um sobrevivente tentava se lembrar de como foi parar ali, a forte dor em sua cabeça, tudo continuava em neblinas, inclusive teus pensamentos, que agora se fixavam em lembranças, lembranças de Scarleth, o chão, cada vez mais cheio de pedras, parecia mudar a pintura do cenário que agora se revelava um caminho estreito entre arbustos muito verdes, folhas vívidas aos olhos daquele pobre homem, ouvia-se vozes em sua mente, enquanto ia cambaleando por entre as folhas, mas, com muita dificuldade, enxergava ao fim da trilha uma sombra, talvez vestisse uma capa por cima do corpo, não sabia se era um homem, não sabia se era um fantasma de seu passado, ou algum tipo de alucinação. O vento soprava forte em teus ouvidos, e se fundia à voz de Scarleth, o caminho parecia não se findar, e estava caindo, caindo. A chuva, impiedosa e frenética se fez voraz, a natureza não estava calma, via ali um corpo caído em meio tuas árvores, porque estava vivo? Ninguém saberia responder, se o vilarejo havia sido destruído, e por mais que aquele pobre homem se esforçasse, não conseguia lembrar o porquê e quando ocorrera o fato, mas sabia que o que ocorrera era recente, o corpo de Scarleth acusava o fato, ainda pôde sentir o ultimo calor vindo de seus seios, os últimos fluxos de seu sangue entre o corpo...

2 comentários:

  1. Cara, gostei demais. Tu criou uma atmofera que não some em momento nenhum. Espero tuas próximas postagens.

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