12.3.10

De

Dedos úmidos, suados, macios, que embora sejam de um morto, demonstravam um toque dourado muito bonito e calmo, embora mais fraco agora, como se ele houvesse morrido com um sorriso, impermeabilizando aquele tom de pele vivaz.
Num gesto lento e emotivo, até mesmo hipnótico de cenas bonitas e finais dos filmes, posicionei-me ao lado do corpo de uma forma que ao levantar a mão movimente-se o mínimo que me permitiria movimentar o resto do braço. Jamais permitiria que eu ou alguém quebrasse aquele braço, por mais ciente que minha mente lógica estivesse de que este braço não iria se quebrar com minha ação simples e que eu mal havia passado por momento pior, mais indesculpável, comum, duro, atroz e principalmente, inevitável, que já havia vivenciado e desejado que não existisse tempo, antes improvissado para mim por forças superiores e seletivas, para que pudesse vivenciar. Uma sensação que me faz ansiar pela morte e vida da bendita e maldita cor rubra. Que ela nunca apareça, mas que ela ainda volte de onde nunca devia ter se espalhado. Meu desejo, eis lhe conto, é a cor rubra. E meu temor, é a ver.
"Tão..." incompletei num sussurro, não esperando alguma continuação minha, nem mais algo.
Beijei parcialmente os dedos anelar e médio, separei-me um pouco, ainda perto o suficiente para sentir o perfume daquele pulso afrente e ir aniquilá-lo com meu bafo fétido. Morno. O dedo sendo uma extremidade do corpo... num mero raciocínio, a esperança volta. Fina e frágil, mas volta viva.
Consultei o pulso, sem esperar e já esperando que fosse tarde demais.

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