26.3.10

John Espigado do Amor Pequeno

"John..."
"Eu entendo, entendo, meu doce. Agora, durma."
E ela é atendida de pré-imediato. Mesmo com as canelas no chão feio e o resto do corpo meio-caído nos braços da falante, a respiração do rapaz já era pesada. Ele era pesado em si também, principalmente em suas culpas.
"Você sempre faz os mesmos cenários, as mesmas roupas... e, ah, que não é por odiar elas que são feias, tá, querido? Mas eu não gosto de como você sempre chega de batidas, súplicas, machucados, olhos inchados, que por mais que me devessem isso e a outros também devia, esses inchados não são por lágrimas."
"Você sempre volta."
A mulher mergulha os pés em baldes merecidos de água morna, trêmula. Apesar disso, devia ser forte como toda suas palavras eram bem formuladas e harmoniosas.
Ela massageia os calos e as bolhas, que se aliviavam instantaneamente. Ela possui uma voz rouca, mas estupidamente linda. Homogênea e pura. Podemos ver a alma dela pela voz.
"Estou cansada, com medo, fome... doida para morrer, mas acumulei muita coisa na pia e aqueles fungos do orfanato..." Ela deixa os pensamentos terminaram de transcreverem os deveres, que não são poucos.
"Imagino qual refeição John andava fazendo e o que ele quer amanhã..." Ela deixa seus devaneios mergulharem nos dos outros com carinho.

"Eu acho que é isso, mãe."
Ela gosta de se esquecer nos outros. É o que ela sempre quer, esquecer os problemas e esses por vez: que coincidência e ironia, são os outros.
John caminha a passos preguiçosos e pequenos até o cômodo, mesmo que suas pernas e corpo inteiro sejam espigados. Ele olha ela com um carinho - que sempre possui certa vergonha de mostrar e até agora a sente. Ela também olha ele, de olhos fechados. Ela sente seu calor, de olhos fechados. A bacia cheia d'água já gelada. A mãe quente. A toalha macia. John seca os pés da moça com leveza. A leva nos braços com atenção. A deita na cama.
John vai até a rua, fuma um, dois, três... Pensa, preocupado.
John sempre foi um péssima rapaz, até um péssimo homem foi! Por este último motivo voltara para casa. Ele nunca foi muito aceito, principalmente pelos vizinhos, os que decidiram odiar ele por achar que a mulher deitada com pés ferrados e encontrada em lindos sonhos... decidiram que iriam odiar ele por ela, que ela não podia odiar seu filho. Eis o engano! Primeiro: que ela não o ama. Segundo: por ser sua mãe.

"Mesmo assim fechado, você já aprontava muito desde cedo." Aquela mãe agora alisada os fios dourados dele com carinho.
A cabeça dele pesava, mas não era assim que aparentava no colo gentil da mulher.
Os inchados, fechados e calmos olhos se fecham e adormecem com o filho. Afinal, eles sempre se amavam assim, de olhos fechados.

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